quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Transporte os animais com cuidado, por favor...

Por Jaqueline B. Ramos

Imagine uma viagem de horas, dias e até mesmo semanas em um ambiente lotado e sujo e em temperaturas extremas. O que para nós é cenário de pesadelo, para alguns animais (infelizmente) é realidade. Esta situação é vivida por milhares de bois, vacas, porcos, ovelhas, cavalos, entre outros animais, que são transportados freqüentemente por milhares de quilômetros, por estradas ou pelo mar, e em condições desumanas para chegar num destino final que definitivamente não paga a viagem: o abate.

O questionamento sobre esta dura realidade vivida pelos animais de produção está sendo feito pela campanha Trate com Cuidado, lançada mundialmente no dia 12 de fevereiro pela Sociedade Mundial de Proteção Animal (World Society for the Protection of Animals - WSPA) juntamente com outras organizações internacionais de bem-estar animal. A campanha está divulgando vídeos feitos com câmeras escondidas ao longo de dois anos. A investigação mostra a brutalidade desnecessária com que os animais são tratados e revela que muitos acabam adoecendo ou até mesmo morrendo, devido às péssimas condições a que são submetidos.

A campanha visa alertar os Governos dos países que exportam os animais sobre a crueldade e maus-tratos por trás do transporte, mostrando que é uma escolha ruim tanto para os animais como para os países. “O sofrimento por que esses animais passam é inaceitável no século 21. E não só isso: o transporte de animais vivos faz os países exportadores deixarem de arrecadar tributos e gerar empregos. É preciso substituir essa atividade pelo comércio de carne industrializada somente e pôr fim a esse transporte que não faz mais sentido”, declarou, no lançamento da campanha, Antonio Augusto Silva, Diretor Regional da WSPA Brasil.

Em tempo: o transporte de carne resfriada e congelada é possível, viável e acontece há mais de 125 anos. Por que não levar os animais para um abatedouro próximo da criação e optar pelo risco de espalhar doenças pelo mundo com o transporte dos animais é uma pergunta que não quer calar...

Rotas cruéis: Cada nação exporta determinados tipos de animais, mas as rotas destacadas pela campanha são: Brasil para Líbano, com 183 mil bois por ano que viajam por 3 semanas; Austrália para Oriente Médio, com 4 milhões de ovelhas, 600 mil bois e 57 mil gansos por ano sendo transportados por 3 semanas, podendo chegar até 32 dias para as ovelhas; Canadá para o Havaí, com 15 mil suínos por ano viajando por 7 dias; e Espanha para Itália, com 10 mil cavalos por ano transportados por 36 horas.

Entre as condições desumanas destacadas, segue um relato do modo como os bois são levados do Brasil para o Líbano: a viagem começa no porto amazônico de Belém, onde o gado é comprimido em caminhões sob o abrasador calor amazônico. Durante quatro dias são incapazes de se mover ou deitar e não recebem nem alimento nem água. Os que caem são esmagados ou feridos. No navio, a utilização de ferrões elétricos para carregá-los aumenta ainda mais o estresse do gado enfraquecido. Esmagados contra animais estranhos, os animais se ferem uns aos outros na sua agitação. Insolações, traumas e doenças respiratórias serão dizimadores numa jornada de 17 dias.

Brasil: A campanha enfatiza o comércio internacional, mas o transporte inadequado de animais dentro de um país de dimensão continental como o Brasil também é uma questão delicada. Basta olhar nas rodovias e estradas e perceber as condições de transporte de grande parte dos caminhões de “carga viva” para fazer um flagrante. É caso destes suínos sendo transportados no interior do Estado de São Paulo (fotos tiradas em setembro de 2006). Não precisa ser nenhum especialista para ver que não é a forma mais adequada de transportar os animais.













Fotos: Jaqueline B. Ramos

Outro dado alarmante, fornecido pela WSPA Brasil: em 2007, 1750 animais brasileiros se afogaram quando um navio de transporte de animais vivos afundou parcialmente num porto da Venezuela. Os seus restos em decomposição contaminaram as praias e a linha costeira.

Para se informar melhor sobre a problemática do Transporte de Animais e ver como pode ajudar, veja os vídeos (atenção, as imagens são fortes) e assine a carta a ser encaminhada para o Governo brasileiro no site http://www.handlewithcare.tv/br/. Divulgue a campanha para familiares e amigos e quando ver animais sendo transportados em condições inadequadas, denuncie ao órgão ambiental mais próximo.

Curtas


Recall de bifes

No dia 18 de fevereiro o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos anunciou o maior recall de carne da história do país – 64,9 milhões de quilos. Uma empresa da Califórnia está sendo acusada de ter abatido animais que estavam em condições de saúde adversas. A empresa também está sendo investigada por crueldade contra animais. Vídeos feitos com câmeras escondidas pelo próprio Departamento mostram animais doentes sendo maltratados e cenas como caminhões empurrando gado e animais levando choques elétricos.

O Governo americano acredita que a maior parte da carne determinada a ser retornada já foi consumida, mas garante que há uma possibilidade remota da mesma causar problemas de saúde para os consumidores. O Secretário de Agricultura, Ed Shafer, declarou que ficou espantado com um manejo tão desumano dos animais, que resulta em violações no regulamento de segurança alimentar.

Leia a matéria completa (em inglês) em http://news.bbc.co.uk/go/em/fr/-/1/hi/world/americas/7249911.stm

Por dentro da mente dos animais


Fotos: Vince Musi, National Geographic

A revista National Geographic do mês de março traz uma foto-reportagem que vai agradar a todos que acreditam que os animais são muito mais inteligentes do que o Ser Humano pensa. O fotógrafo Vince Musi apresenta fotos extremamente expressivas e histórias de animais cujo comportamento e cognição são estudados até hoje e ajudam o próprio homem a entender como se dá o nosso processo de aprendizagem. Entre esse animais estão bonobos, border colliers, roedores e até abelhas.

Segundo o fotógrafo, o trabalho não foi só de fotografar os animais, mas tentar captar o que passa por dentro de suas mentes. A conclusão é que animais são muito mais espertos do que você pode imaginar... As fotos acima são só uma palhinha do trabalho de Musi. Veja mais fotos da reportagem e um vídeo do fotógrafo no site da National Geographic.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008















Rafting no Rio Paraíba do Sul

No dia 16 de fevereiro, o projeto Rio Vivo, da rede Band Vale, em conjunto com a Cia do Rafting, empresa de ecoturismo, promoveu uma atividade de educação ambiental muito interessante em São José dos Campos (SP). Um grupo de 40 pessoas, entre os quais representantes do governo local, ambientalistas e jornalistas, foi convidado a fazer um rafting num trecho do rio Paraíba do Sul na cidade. Detalhe: diferentemente dos rios em parques e reservas onde se costuma praticar o esporte, esta descida foi feita num ambiente poluído.

O objetivo deste rafting foi justamente mostrar a situação atual do Paraíba do Sul, que tem entre as maiores causas da sua poluição o crescimento progressivo da ocupação humana na sua área de influência e o desenvolvimento de atividades exploratórias, como a extração de areia, nas áreas de várzea e no entorno do rio.

André Miragaia, Secretário de Meio Ambiente de São José dos Campos, participou do rafting e deu o que pode ser considerada como uma boa notícia: a Prefeitura da cidade está renovando seu contrato com a Sabesp e prevê que até 2011 pelo menos 80% do esgoto da cidade passem a ser tratados. E a meta é que até 2015 se consiga tratar todo o esgoto que chega ao Paraíba através de seus afluentes. Em tempo: a maior parte das cidades do Vale do Paraíba tratam 0% do seu esgoto, refletindo a triste tendência nacional de que quase metade da população das capitais, o equivalente a 19 milhões de pessoas, tem seus esgotos despejados nos rios e no mar sem qualquer tipo de tratamento.

domingo, fevereiro 17, 2008



Revista dos Vegetarianos n. 16 (fevereiro 2008) - Link para a revista: http://www.europanet.com.br/revistadigital/?modulo=exibe_produto&id_produto=9946016
Moda consciente
Por Jaqueline B. Ramos

É bem provável que todo vegetariano concorde que a decisão de cortar carne e ingredientes animais da dieta alimentar é apenas o ponto de partida de um estilo de vida diferenciado. Quando nos tornamos herbívoros queremos que a ideologia perpasse todo o nosso cotidiano. Inclusive o das roupas que vestimos. Couro, pele, lã, seda, penas e outros materiais que impõem sofrimento a animais para serem obtidos saem definitivamente de moda. Entram em cena materiais sintéticos e derivados de fibras naturais num estilo que é chamado veg fashion, ou moda sem crueldade, um novo olhar sobre o que realmente é ser chic.

Como o próprio nome deixa bem claro, veg fashion é um conceito baseado nos preceitos de não exploração dos animais por capricho e acomodação do bicho-homem. Não restam dúvidas de que não precisamos de peles de animais como roupas, visto o grande número de recursos sintéticos e naturais, como algodão, bambu e cânhamo, só para citar alguns exemplos, já encontrados no mercado. No entanto, vestir roupas ou usar acessórios feitos de peles genuínas e outras matérias-primas animais ainda é categorizado como luxuoso, ou “glamouroso”, na linguagem da moda.

O resultado de tamanha futilidade (com perdão da palavra) é o sofrimento e morte de milhares de animais todos os dias. Segundo estimativas da Fur-Free Alliance, uma coalização internacional formada por cerca de 30 organizações de proteção animal, a indústria da pele mata por ano cerca de 50 milhões de animais para o mercado da moda, de lobos a esquilos (e o levantamento nem inclui coelhos, por falta de números oficiais). E para piorar a situação, uma investigação da ONG Humane Society, dos Estados Unidos, no final da década de 90 divulgou a matança indiscriminada de gatos e cachorros na China e outros países asiáticos. Os animais, alguns de raça e outros de rua, são abatidos covardemente depois de semanas de confinamento e sua pele abastece a indústria de roupas, acessórios, e bugigangas em geral que são exportadas para todo o mundo.

“Minha maior crítica é que milhares de animais são criados em cativeiro somente para este fim, muitas vezes de forma clandestina. Sem contar os problemas do mercado ilegal com a caça, armadilhas e o tráfico. E mesmo assim ainda existe um glamour que sustenta esta crueldade. Grifes internacionais como Prada, Yves Saint-Laurent e Vogue América, por exemplo, ainda valorizam peças de pele real, propagando a idéia de que usá-las é elegante. O maior desafio é mudar a mente das pessoas em relação a este conceito”, diz Danielle Ferraz, jornalista de moda e vegetariana, autora de artigos sobre crueldade com animais na moda e diretora das duas edições do desfile “Veg Fashion”, ocorridos em 2004 e 2006 nas cidades de Florianópolis e São Paulo durante congressos vegetarianos.

Novas tendências

Mas apesar dos absurdos de exploração de animais cometidos em nome da moda, o cenário aponta algumas boas notícias em prol da veg fashion. A estilista inglesa e vegetariana Stella MacCartney lidera campanhas internacionais anti-pele e apresenta para o mundo todos os anos coleções de roupas livres de crueldade admiradas pelos maiores especialistas do mundo fashion. Acompanhando a tendência, nos últimos dois anos estilistas renomados como Ralph Lauren, Calvin Klein, Kenneth Cole e Tommy Hilfiger declararam publicamente a resolução de não usar mais peles e materiais de origem animal em suas criações. E o melhor: puramente pela questão ética.

Enquanto isso a organização PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) continua a todo vapor com seus protestos em parceria com celebridades usando o slogan “prefiro ficar nu a usar peles”. Com destaque para a campanha “Voguesucks.com”, que critica explicitamente Anna Wintour, editora da revista Vogue norte-americana, pela promoção e uso de casacos, vestidos e outras peças de peles genuínas e conscientização zero em torno do sofrimento e morte dos animais. “Nós sempre estamos procurando por novos jeitos de conscientização sobre o sofrimento extremo pelo qual os animais passam nas fazendas onde se tiram suas peles e nas armadilhas cruéis que o homem espalha na natureza”, declarou Ingrid Newkirk, presidente da PETA em julho do ano passado na ocasião de uma campanha em conjunto com Stela MacCartney na comunidade virtual Second Life.

No Brasil, os desfiles “Veg Fashion”, idealizados pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), foram precursores no objetivo de mostrar os bastidores da moda que não se preocupa com os materiais que utiliza e valorizar as novas grifes conscientes que oferecem peças livres de crueldade. A presidente da SVB, Marly Winckler, que criou o conceito do desfile, acredita que cada vez mais se alastra essa consciência sobre as atrocidades cometidas contra os animais, seres indefesos e sensíveis, para se obter materiais utilizados nas roupas. “Neste último Carnaval a SVB participou de um desfile da escola de samba Imperador do Ipiranga, de São Paulo, cujo tema foi “a salvação do planeta é o bicho”. Abordamos a questão e não permitimos o uso de nenhum material de origem animal nas fantasias”, conta Marly.

Ético e mais barato

Moda sem crueldade é um conceito amplo que alia questões éticas, sociais e ambientais. Não se pode (nem se deve) pensar em acabar com a exploração de animais sem considerar o contexto mais holístico de destruição de ambientes naturais e hábitos insustentáveis praticados pelo homem nos dias atuais. “A questão básica é o consumo ético e consciente, respeitando os animais e o meio ambiente. Não faz o menor sentido a utilização de peles e couros em roupas. Tanto pelo sofrimento dos animais como pelos graves impactos ambientais associados à criação intensiva ou captura ilegal dos animais para este fim”, afirma a presidente da SVB.

Quando se fala do contexto que alia conservação ambiental e respeito aos animais, há até pessoas que argumentam que materiais de origem animal seriam mais naturais e ambientalmente mais corretos do que os sintéticos. No entanto, pode ser demonstrado que é justamente o contrário. “O couro, como a pele de qualquer ser vivo, irá se deteriorar e se decompor caso não seja curtido. E o processo de curtume é um dos mais impactantes existentes, pois envolve muitas substâncias químicas pesadas que são extremamente prejudiciais ao meio ambiente e para as pessoas que as estão manuseando”, explica Josh Hooten, fundador da Herbivore Clothing Company, loja virtual de roupas e acessórios criada em 2002 na cidade de Portland, nos Estados Unidos.

O conceito da Herbivore Clothing Company nasceu da necessidade de seus donos, o casal Josh e Michelle Schwegmann, usarem roupas pelas quais pudessem expressar com estilo suas idéias sobre veganismo e direitos animais. Há cinco anos eles não achavam opções no mercado e começaram a produzir e desenvolver as idéias por conta própria. Hoje os estilistas e empresários têm em mente que o foco de sua marca é direitos animais, mas sabem que este conceito leva à discussão e análise de outras questões extremamente relevantes, como impactos ambientais, não respeito a direitos humanos e danos à saúde.

“Não fazemos as estampas de nossas camisetas em lojas que exploram seus empregados e já usamos em algumas peças malha de algodão orgânico, o que pretendemos expandir para toda a coleção no futuro. Tudo isso faz parte da mensagem passada pela roupa. E há muitas opções de materiais para isso. Eu mesmo não uso couro, lã, seda e outros materiais do tipo por quase uma década e nunca senti falta ou deixei de achar uma opção que não tivesse origem animal”, ressalta Josh.

Reforçando a opinião do norte-americano, a jornalista Danielle Ferraz explica que a indústria têxtil se desenvolveu o suficiente para oferecer opções sintéticas alternativas (e ambientalmente mais equilibradas) que substituem praticamente todos os materiais de origem animal. E isso tudo com uma grande vantagem: o custo de produção do material sintético é mais barato que o de produção de material de origem animal. “Os sintéticos e os materiais naturais geralmente saem mais em conta para o consumidor. E poderiam ser ainda mais baratos se a procura por estas opções fosse maior”, explica Danielle.

Como em qualquer atividade econômica, na veg fashion também vale a lei da oferta e procura. Quanto maior a demanda, as opções de oferta crescem, refletindo num preço final mais competitivo e menor. Portanto, para a moda sem crueldade não sair de moda, basta uma procura maior por parte dos consumidores em geral.

“O papel do consumidor é parar e pensar de onde estão vindo suas roupas. Todo mundo concorda que é errado abusar e torturar animais e não deseja sustentar um processo desses, ainda mais com várias alternativas mais conscientes que podem ser usadas”, diz Josh. “O consumidor ético se informa e se preocupa com a procedência do que consome, vendo todos os ângulos da questão. Hoje começa a haver reação às barbaridades cometidas no campo do consumo e campanhas e organizações estão chamando a atenção para o comércio justo. Esse é o caminho”, opina Marly.

Marcas no mesmo estilo da Herbivore são mais comuns nos Estados Unidos e Europa (veja box com dicas e opções de compras de roupas cruelty-free / livres de crueldade). No Brasil o conceito é mais novo, porém a consciência é crescente e as opções de veg fashion vão surgindo e se estabelecendo. A questão é que algumas grifes brasileiras estão bem avançadas no campo ambiental, usando materiais orgânicos e/ou reciclados, mas nem sempre são tão criteriosas com o não uso de materiais de origem animal. A última Fashion Week de São Paulo, por exemplo, incorporou o conceito de meio ambiente a partir dos materiais utilizados, o que já pode ser considerado um grande avanço. A expectativa agora é que esta tendência avance e se aprofunde, eliminando também os materiais provenientes de peles, couros e outros derivados de animais.

O mais importante é saber que uma moda livre de crueldade é possível e é feita com informação. Se você já conhece a realidade por trás da exploração animal para roupas, sapatos e acessórios, procure usar o conhecimento que têm para incorporar novos hábitos. Questione a origem do material de suas roupas e seja mais criterioso nas compras. Se já sabe como se vestir com estilo sem a carga da crueldade, passe a idéia para seus amigos e familiares mostrando-lhes opções práticas de compras mais conscientes. Afinal de contas, como bem resume o slogan do desfile “Veg Fashion”, chic é ser consciente. E ninguém em sã consciência quer ser cúmplice de exploração, covardia e maus-tratos a qualquer ser vivo.

Saiba mais:

Fur Free Alliance - http://infurmation.com/
PETA - http://www.peta.org/actioncenter/clothing.asp e http://http://www.voguesucks.com/
Fur-Free Campaign - http://www.hsus.org/furfree/campaigns/legislation.html

A crueldade no guarda-roupa

Couro: Milhares de vacas, porcos, ovelhas, cabras, entre outros animais, são abatidos todos os anos para utilização de sua carne e também de sua pele, que se torna couro, camurça, nobuk etc. Alguns outros animais, como raposas, esquilos e até lobos, são criados em cativeiro e fazendas especificamente para este fim, tendo às vezes a pele retirada quando ainda estão vivos. Mais recentemente se descobriu que até gatos e cachorros são vítimas da indústria da pele.

Para a pele do animal se tornar couro ela precisa passar pelo processo de curtume, no qual são usadas várias substâncias químicas perigosas, tanto para o meio ambiente como para o homem. Levantamentos oficiais comprovam que pessoas que trabalharam ou que moraram próximas a plantas de curtume são comumente vítimas de câncer, devido à exposição às toxinas.

Lã: A tosa de carneiros e ovelhas para retirada da lã não é um processo natural e compromete o bem-estar dos animais, que precisam de sua pelagem para se proteger do frio. Além disso, como o material é pago por volume, a tosa é feita sem cuidado e de forma exagerada, machucando os animais. A indústria da lã, através da criação intensiva dos animais, também é responsável por impactos no meio ambiente através da poluição de água e emissão de uma grande quantidade de gás metano na atmosfera.

Seda: A seda é um material resultante dos fios produzidos pelo bicho-da-seda para tecer o seu casulo, onde de lagarta o inseto se transforma em mariposa, atingindo sua idade adulta para reprodução. Para obtenção da seda os insetos foram domesticados pelo homem em ambientais artificiais e são mortos dentro do casulo, do qual são retirados os fios.


Algumas dicas na hora das compras

A primeira dica é sempre olhar etiquetas para saber o material utilizado nas roupas que pretende comprar. Você vai se surpreender que é muito mais fácil achar opções de sintéticos e fibras naturais do que podia imaginar.

Para artigos de couro, como sapatos, cintos e jaquetas, procure sempre o que diz na etiqueta. Se a informação não for clara em relação a ser sintético, pergunte ao vendedor. E uma boa dica para evitar couro é observar e comparar os preços. Geralmente o sintético é pelo menos metade do preço mais barato que o couro de animal. No caso de lãs, fique atento, pois nem sempre elas estão muito aparentes nas peças. Algumas calças e casacos, por exemplo, podem ser feitos de lãs em combinação com outros materiais, o que também sempre poderá ser descoberto pela etiqueta. Substitua pashminas e cashmeres por lãs de polyester ou algodão ou tecidos térmicos sintéticos, desenvolvidos a partir de materiais alternativos e mais resistentes a frio e vento do que a lã.

A seda por ser substituída por tecidos alternativos como nylon, polyester e o rayon, uma espécie de seda artificial. E até para quem gosta de roupas e acessórios “de pele”, o mercado já oferece variadas opções de peças de pele falsa confeccionadas a partir de materiais sintéticos. Uma boa forma de verificar se uma peça é de pele verdadeira ou falsa é fazer um teste simples e rápido. Esfregue um pouco de pêlo entre o polegar e o dedo indicador. Se você sentir o pêlo macio e fácil de manusear entre os dedos, provavelmente é pele genuína. Caso sinta o contrário, o pêlo mais áspero, a pele é sintética.

Onde comprar roupas livres de crueldade

Brasil


· Vegan Pride (Acessórios, camisetas e produtos livres de crueldade)
Av. São João, 439, loja 424 Centro, São Paulo – SP Tel.: (11) 3362 0897
Vendas pela Internet e entregas em todo o país
http://
http://www.veganpride.com/

· King 55 (Camisetas e jeans. Sustentabilidade e luta contra a exploração animal)
Rua Harmonia, 452 Vila Madalena São Paulo – SP Tel.: (11) 3032 1838
http://www.king55.com.br/

· XBloodlineX Clothing (produtos livres de crueldade animal)
Vendas pela Internet e entregas em todo o país
http://www.xbloodlinex.com.br/inicio.html

· Maria Simone (Bordado manual e customização. Parceria com ONGs Adote um Gatinho, Arca Brasil e Bicho no Parque)
Rua Wisard, 287 Vila Madalena, São Paulo – SP Tel.: (11) 3815 5392/ 3811 9335
http://
http://www.mariasimone.net/

· Vista-se (Camisetas vegetarianas)
http://www.vista-se.com.br/

· Tree Tap (Couro vegetal da Amazônia)
http://www.treetap.com.br/

Exterior (compras pela Internet)

· Herbivore Clothing Company
http://herbivoreclothing.com/

· Alternative Outfitters
http://www.alternativeoutfitters.com/

· Moo shoes
http://www.mooshoes.com/

· Vegetarian shoes
http://www.vegetarian-shoes.co.uk/

sábado, fevereiro 09, 2008

Mercado ilegal de animais: ética e conservação











Fontes fotos: Filhotes apreendidos - Fiocruz/Neiva Guedes ; Arara-azull-de-lear - Portal Biologia

por Jaqueline B. Ramos *

Muitos nunca pararam para pensar, mas aquele pássaro silvestre a venda numa pet shop pode representar uma pequena ponta de um mercado ilegal que é o terceiro em movimentação de dinheiro no mundo, atrás somente do de drogas e armas: o tráfico de animais silvestres. E o Brasil, país detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta, infelizmente tem um papel de destaque neste mercado.

Segundo levantamento oficial feito pelo Ministério do Meio Ambiente e pela ONG Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), estima-se que cerca de 38 milhões de animais são retirados de ecossistemas brasileiros a cada ano para alimentar a demanda do tráfico. O destino desses animais – ou de pelo menos parte deles, já que se sabe que apenas um entre 10 animais sobrevive ao transporte até o destino final – é abastecer o mercado externo (principalmente Europa e Estados Unidos) de colecionadores de pets exóticos e também o mercado interno, virando mercadoria a venda em feiras ou “criadouros registrados de fachada.”

Aproximadamente metade dos animais capturados ilegalmente no Brasil, a maioria pássaros, vão para o mercado externo. Também se estima que o país é responsável por cerca de 15% do mercado ilegal de animais silvestres no mundo, tendo 400 quadrilhas organizadas realizando a captura e tráfico - sendo que 40% possuiriam ligações com outras atividades ilegais.

Devido à falta de informação e maiores esclarecimentos, algumas pessoas acabam adquirindo animais silvestres no impulso de ter um “bicho diferente em casa”, achando, erroneamente, que eles são como gatos e cachorros. E também não se dão conta que este consumo sustenta toda uma rede de ilegalidade.

“O principal desafio do trabalho de combate ao tráfico de animais silvestres no Brasil é a educação ambiental. Acreditamos que a situação esteja muito melhor hoje do que há alguns anos, pois as campanhas educativas têm contribuído muito nos esforços de conscientização. Hoje a sociedade denuncia mais e podemos afirmar que os traficantes não atuam mais com a facilidade de antes”, afirma Dener Giovanini, coordenador geral da Renctas, que trabalha no combate ao mercado ilegal no Brasil desde 1999.

Lugar de animal silvestre é na natureza

Giovanini ressalta o importantíssimo papel da população em não adquirir animais silvestres e denunciar situações testemunhadas de comércio irregular dos mesmos. E complementando essa visão mais crítica, vale a pena refletir um pouco sobre as implicações de conservação e bem-estar animal e as questões éticas por trás do comércio de animais silvestres.

Uma primeira questão a ser pensada é o fato de animais silvestres não serem animais de companhia (os chamados pets). Araras, sagüis, micos, algumas espécies de papagaio e outros pássaros, por exemplo, não passaram pelo processo de domesticação de gatos e cachorros para se adaptarem ao “estilo de vida humanizado”. Ou seja, seu lugar não é em um apartamento ou em uma casa na companhia de adultos e crianças, mas sim na natureza.

O homem levou cerca de 10 mil anos para domesticar cachorros e cinco mil anos para os gatos e hoje estes são classificados como animais de companhia devido a este histórico de compatibilidade com o meio ambiente do homem. Mas mesmo assim muitos cachorros e gatos ainda enfrentam problemas de bem-estar devido à falta de informação por parte de seus donos em relação às demandas e características de seu comportamento e fisiologia. E este desconhecimento pode resultar em problemas de comportamento do animal ou até o seu abandono, agravando o cenário do crescente número de animais abandonados nas ruas e em abrigos.

A criação de animais silvestres sem a devida informação especializada pode resultar em problemas de bem-estar e sofrimento do animal, que, além de estar fora de seu habitat natural, pode não ter todas as suas necessidades atendidas. Vale também ressaltar que a captura ilegal da natureza já é apontada como uma das principais causas da ameaça de extinção enfrentada por algumas espécies brasileiras. É o caso, por exemplo, da ararajuba (ave) e do sagüi-de-duas-cores (primata), animais da Amazônia classificados respectivamente como ameaçado e criticamente ameaçado na lista vermelha da IUCN (World Conservation Union) e comumente comercializados de forma ilegal.

Lista oficial de pets exóticos

Atualmente no Brasil qualquer pessoa pode ter um animal silvestre como pet desde que o animal seja adquirido de um criadouro registrado (Lei 5.197/67 e Portarias 117/97, 118/97 e 102/98). Mas a prática de criar e comercializar animais silvestres como pet com uma regulamentação mais específica voltou à pauta de discussão entre ambientalistas e defensores de animais nos últimos meses.

Em setembro o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) aprovou uma resolução que define os critérios para produção de uma lista de animais silvestres brasileiros que poderão ser criados e comercializados como animais de estimação. Desde então o Ibama vem trabalhando na elaboração da lista, que deve ser divulgada para aprovação pública ainda no primeiro semestre de 2008. Entre os critérios utilizados estão o significativo potencial de riscos à saúde animal ou ao equilíbrio das populações naturais, os riscos à saúde humana e a condição de bem-estar e adaptabilidade da espécie para a situação de cativeiro como animal de companhia.

Mas a iminente mudança na lei no Brasil poderia ser uma barreira para o controle de possível impacto no aumento da demanda/consumo dos animais? A resposta é: sim e não.

A resposta é positivo quando se analisa que a resolução do Conama foi aprovada com o intuito de regulamentar o especificamente o artigo 6 da Lei n. 5197, de 1967, que diz que o Poder Público estimulará criadouro de animais silvestres para fins econômicos e industrias (leia-se, pele e couros). A intenção da resolução é atualizar a lei para o mercado de pets, estabelecendo critérios específicos e eliminando brechas decorrentes de seu conteúdo genérico atual.

A intenção pode até ser boa, mas a (triste) realidade brasileira no que diz respeito ao controle do comércio de animais silvestres nos leva para a parte negativa da resposta.

“Ainda não é possível prever com exatidão quais serão as conseqüências desta nova regulamentação. Porém creio que se os mecanismos de controle e fiscalização não forem reforçados para atender a demanda que essa resolução trará, os riscos são grandes. Se os critérios estabelecidos não forem respeitados poderá existir um aumento no tráfico e, inclusive, desequilíbrios ambientais ocasionados pela introdução indevida de espécies na natureza”, ressalta Giovanini, da Renctas.

E a visão da ONG é compartilhada pelo próprio Governo. “O comércio de animais silvestres não tem se mostrado como uma solução para o tráfico. Pelo contrário, muitas vezes os criadouros e comerciantes podem servir de fachada para a atividade ilegal, ou são seus principais fomentadores”, explica Vincent Kurt Lo, analista ambiental do Ibama SP. “Além disso, enfrentamos problemas de controle com o limitado quadro de servidores e parcos recursos, não dando conta de todas as fiscalizações e verificações em campo necessárias.”

Segundo Vincent, a lista de animais é válida ser for extremamente limitada e específica, permitindo a comercialização de poucas espécies silvestres como pets. Em vez de encorajar que as pessoas levem animais para casa, o analista acredita que o ideal é incentivar que as pessoas vão até à natureza somente para observá-los.

O assunto é tão controverso que a própria Divisão de Fiscalização de Fauna (Difau) do Ibama, que está elaborando a lista e coordena o trabalho de fiscalização do comércio de animais silvestres no Brasil, alerta sobre as implicações negativas do incentivo de “pets selvagens” (leia mais abaixo), entre eles o abandono do animal pelo proprietário que não consegue prover todos os cuidados necessários.

A soltura de um animal silvestre num ecossistema que não é o seu habitat natural pode gerar sérios problemas ecológicos. Na portaria 117, de 1997, o Ibama define que o comerciante, criadouro ou importador deve fornecer aos compradores de animais de estimação um texto com orientações básicas sobre os cuidados básicos com a espécie e a recomendação da não devolução dos animais à natureza sem o expresso consentimento da área técnica do instituto.

Mas novamente se esbarra no problema do limite da fiscalização e dos recursos utilizados, que limitam o controle. Além disso, animais provenientes de criadouros comerciais licenciados são marcados e controlados com microchips e anilhas e estes são facilmente falsificados pela indústria do tráfico. A solução seria a verificação através de teste de DNA, o que ainda não é aplicado pelo Governo Brasileiro.

Diante de tantas implicações e questionamentos, a única certeza em torno do mercado de animais silvestres é a de que ele não deveria existir. A tentativa de oficializar o comércio pode visar um maior controle, mas o fato é que lugar de animal silvestre é na natureza. A captura do mesmo pelo homem para ser um pet é apenas um ato de capricho, passando longe da necessidade e do princípio ético de que toda vida deve ser respeitada.

*Matéria publicada no informativo do Insituto Ecológico Aqualung n. 76 (novembro/dezembro 2007) - Clique aqui para a versão em pdf.

Riscos da propagação da idéia de ter um animal silvestre como pet

- As literaturas médicas e veterinárias citam diversas doenças (zoonoses) que podem ser veiculadas por animais silvestres, gerando possíveis problemas de saúde pública.

- Falta de conhecimento técnico por parte da maioria dos Médicos Veterinários para o atendimento dos animais silvestres a serem criados como animais de estimação. A disciplina sobre animais silvestres oferecida nos centros acadêmicos não faz parte da grade curricular obrigatória para esses profissionais no Brasil.



Foto: Jaqueline B. Ramos (onça em cativeiro - zoológico do CIGS, Manaus, AM)


- Os animais de cativeiro podem reagir a influências nocivas de ordem física, psíquica, infecciosa, capazes de perturbar seu equilíbrio interno (estresse), o que pode culminar em sua morte.

- Nos estabelecimentos comerciais da maioria das cidades brasileiras não são encontrados alimentos balanceados para a dieta de animais silvestres, incorrendo, assim, em fornecimento de alimentações inadequadas aos animais sob a guarda doméstica.

- Possibilidade de abandono do animal caso o dono desista da sua criação por não conseguir prover todos os cuidados necessários e avaliar que o mesmo não se adaptou ao ambiente doméstico. Este abandono poderá gerar um problema ambiental (introduzir espécies exóticas em ecossistemas) ou para outros cidadãos (acidentes ou contração de enfermidades).

- Os espécimes em cativeiro podem ser agressivos ou se tornarem agressivos no decorrer do tempo de convivência com seu detentor, podendo ocasionar acidentes graves.

- Incentivo a cultura de possuir animais silvestres, o que poderia provocar uma maior captura de animais nativos por pessoas que não possuem os valores necessários para a aquisição de um animal legalmente adquirido.

- O detentor de um animal silvestre legalmente adquirido poderá acobertar outros animais, sendo estes oriundos do tráfico.

Fonte: Ibama / DIFAU – Divisão de Fiscalização de Fauna

Mudança em Lei inglesa pode incentivar tráfico

Em outubro o Governo Britânico divulgou uma notícia que vai de encontro aos esforços de combate ao tráfico de animais silvestres. Depois de alguns meses de avaliação, definiu-se que 33 animais silvestres, totalizando 122 espécies, não eram mais tão perigosos a ponto de necessitarem de licença para serem comprados como animais de estimação por qualquer pessoa que assim desejasse.

Na prática isso significa que qualquer cidadão inglês pode ir a uma pet shop e comprar sagüis, micos, lemurs, gatos híbridos e até bichos preguiça sem qualquer espécie de controle. O governo se defende das críticas na mudança na Lei de Animais Silvestres Perigosos (Dangerous Wild Animals Act, em inglês) afirmando que o critério seguido foi apenas o do quanto os animais são perigosos para o homem. Questões de bem-estar animal e conservação seriam assuntos tratados por outras leis, como a de Bem-Estar Animal (Animal Welfare Act) e a CITES (Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora).

“Muitos animais silvestres podem até não ser propriamente perigosos para o homem, mas todos são extremamente difíceis de serem criados e precisam de cuidados de especialistas. Estamos muito desapontados e preocupados com a remoção desse grande número de espécies da lista”, diz Tim Thomas, cientista sênior do Departamento de Vida Selvagem da ONG inglesa RSPCA (Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals), referência no país em trabalhos de defesa de direitos dos animais.

Considerando que 30% dos animais que não precisam mais de licença, segundo a lei inglesa, são considerados ameaçados de extinção pela Red List e que 36% deles são originados da América do Sul, incluindo o Brasil, não é exagero fazer uma análise sobre as possíveis conseqüências que mudanças na lei de um país que “compra” os animais teriam em um dos países de origem dos mesmos.

“Esta mudança na Inglaterra pode ter uma forte influência no crescimento da demanda de animais silvestres dos países tropicais, consequentemente aumentando o tráfico. Animais como bicho preguiça e macaco de cheiro, por exemplo, não precisam mais de licença e isso pode gerar uma corrida para retirada de mais animais das florestas brasileiras, dificultando ainda mais o controle do tráfico”, alerta Vincent Kurt Lo, do Ibama SP.

Leia reportagem mais detalhada sobre mudança na lei inglesa no Ambiente-se in English.

Como denunciar o tráfico de animais?

Ibama – Linha Verde (todo o país)
0800 618080

Renctas (todo o país)
(61) 3368 8970
http://www.renctas.org.br/pt/informese/denuncie.asp

Disque Denúncia (Rio de Janeiro)
(21) 2253 1177

Presas - Programa de Reabilitação e Salvamento de Animais Silvestres (Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo)
(12) 3933 5993
http://www.iepa.org.br/

Curtas - Notas ambientais
por Jaqueline B. Ramos*

As últimas do aquecimento global em 2007

Várias notícias sobre as possíveis conseqüências do aquecimento global foram manchetes de jornais de todo mundo nos últimos meses, tornando o assunto cada vez mais presente no cotidiano de todos. Cientistas dinamarqueses, por exemplo, divulgaram resultado de uma recente pesquisa na qual se constatou que a camada de gelo da Groenlândia está derretendo muito mais rápido do que o previsto.

O degelo na Groenlândia é agora quatro vezes mais rápido do que no início da década, levando ao mar todos os anos icebergs equivalentes a um cubo de gelo gigante de 6,5 km de extensão. Se este ritmo continuar, isso significa que o nível dos oceanos aumentará 60 cm ao longo do século, superando a previsão da ONU de um aumento entre 20 e 60 cm. Ainda no extremo norte do planeta, mais precisamente no Oceano Ártico, a previsão é de menos gelo ainda. Estudo realizado por geofísicos norte-americanos e poloneses aponta um verão totalmente sem gelo no Ártico no curtíssimo prazo de cinco a seis anos. Sobre as até então estimativas oficiais de um verão com o Oceano Ártico aberto (sem geleiras) entre os anos de 2040 e 2100, os cientistas do recente estudo comentam que “os modelos climáticos globais subestimam a quantidade de calor transportada para o oceano de gelo.”

No outro pólo gelado, a Antártica, as previsões também não são muito otimistas. Segundo a WWF (World Wild Foundation), a população de pingüins antárticos sofreu uma forte redução devido à destruição dos locais dos ninhos e das fontes de alimentos causada pelo aquecimento global. A península Antártica se aquece a um ritmo cinco vezes superior ao da média mundial e isso afeta as quatro espécies de pingüins da região - o imperador (maior do mundo), o papua, o barbicha e o adélia. O relatório "Pingüins Antárticos e a Mudança Climática" informa que o gelo marinho cobre hoje uma área 40% inferior à de 26 anos atrás na costa oeste da península Antártica, afetando o ciclo de alimentação e reprodução dos animais.

Enquanto isso, em Bali...

Diante de todas estas notícias alarmantes, a 13ª Conferência da Convenção de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-13), ocorrida em Bali no início de dezembro, foi um dos acontecimentos ambientais mais esperados dos últimos anos (há quem diga que foi o evento mais importante desde a Rio 92). A expectativa em torno dos acordos a serem firmados era muito grande, mas a dificuldade de negociação de compromissos e metas entre os países, principalmente Estados Unidos, que nunca assinou o Protocolo de Quioto, surpreendeu todos que acompanhavam atentamente a definição de um novo pacto internacional para combater o aquecimento global.

A aprovação do texto que será a base para o documento substituto do Protocolo de Quioto até 2009 emperrou depois de um impasse sobre a inclusão da principal meta recomendada pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) – a redução de 25% a 40% da emissão de gases até 2020. A solução encontrada pela União Européia para convencer os Estados Unidos foi ceder e deixar apenas uma referência ao IPCC no início do texto, sem estabelecer metas.

Dificuldades a parte, o fato é que a assinatura do “Roteiro de Bali” permite que os países comecem a negociar as formas como atingirão os objetivos propostos. E os países desenvolvidos se comprometeram a transferir tecnologia para nações do Terceiro Mundo em prol do combate ao aquecimento global. Só isso já é suficiente para tornar 2008 um ano estratégico na avaliação dos impactos das mudanças climáticas.

O Brasil foi um dos 191 países presentes na COP-13 e anunciou no evento um fundo nacional para investimentos no combate ao desmatamento no valor de, aproximadamente, US$ 900 milhões. A novidade deste fundo é que a linha de investimento terá como base a redução das emissões de carbono obtidas com a queda do desflorestamento na Amazônia no ano de 2006, numa tentativa de colocar em prática a proposta de que reduções em derrubadas de florestas devem ser recompensadas.

Em defesa de Abrolhos

Não é de hoje que ambientalistas alertam sobre os perigos que ameaçam o arquipélago de Abrolhos, no extremo sul da Bahia. Em novembro as preocupações foram reforçadas durante uma manifestação com o objetivo de chamar a atenção dos governos estadual e, principalmente, federal sobre a importância de áreas protegidas na região.

Integrantes da Coalizão SOS Abrolhos, uma rede formada por organizações socioambientais e universidades, ressaltaram a situação precária das unidades de conservação do arquipélago e a necessidade de criação de outras UCs, que têm processos paralisados no Governo. O manifesto começou na Ilha de Santa Bárbara com a extensão de uma grande faixa apoiada em botes infláveis com a inscrição "Lula e Wagner, ABRam os OLHOS". Em seguida outras faixas foram abertas, só que estas debaixo d’água e com as seguintes mensagens: "Lula, a criação da Resex Cassurubá só depende de você"; "Lula, resgate a proteção do parque de Abrolhos"; "os manguezais são berçários dessa vida marinha".

O arquipélago de Abrolhos vem passando por uma séria crise já há alguns anos. O entorno do Parque Nacional Marinho (PARNAM) de Abrolhos, por exemplo, se encontra desprotegido devido à suspensão de sua zona de amortecimento (ZA), abrindo precedentes para atividades exploratórias de petróleo e gás. Além disso, os manguezais da região - berçários das espécies dos recifes de corais - estão vulneráveis devido a atividades como a carcinicultura (criação de camarões), que poderia ser controlada com a criação da Reserva Extrativista (RESEX) do Cassurubá.

De volta à natureza

A reintrodução de um raro casal de araras-azul-de-lear pela primeira vez em seu habitat natural, na Bahia, deu uma nova luz de esperança para a conservação de espécies de animais silvestres que são capturados ilegalmente dos ecossistemas brasileiros. No início de dezembro, o Programa de Conservação das Aves Silvestres, do Instituto Chico Mendes, reintroduziu os animais depois de quatro anos de recuperação e acompanhamento. As duas aves foram encontradas feridas em 2003 e receberam transmissores de rádio antes de voltar à vida livre. Em 2001 se estimava apenas 170 destas araras na natureza. Atualmente calcula-se cerca de 650, mas mesmo assim ainda são necessários muitos cuidados para que a espécie saia e se mantenha longe da lista dos ameaçados de extinção.

Noruega e florestas tropicais

A Noruega sai na frente e fecha com chave de ouro o ano de 2007. Pelo menos no campo das intenções. O país anunciou em dezembro a doação de US$ 2,8 bilhões (US$ 550 milhões por ano, até 2012) para combater o desmatamento em florestas tropicais. A doação foi originalmente proposta em uma carta enviada ao governo norueguês pelas organizações Rain Forest Foundation, da Noruega, e Amigos da Terra Noruega. O objetivo é incentivar outros governos a somar esforços na iniciativa de combate ao desmatamento em países tropicais. O anúncio também confirma a disposição da Noruega em apoiar o combate ao desmatamento no Brasil. Em outubro, os ministros do meio ambiente dos dois países, Erik Solheim e Marina Silva, fecharam acordo de cooperação no valor de US$10 milhões para o combate ao desmatamento nos estados brasileiros e a implantação de reservas extrativistas (Resex).

Restaurante ecológico


Restaurantes também podem ter um importante papel no combate aos impactos negativos no meio ambiente. Pelo menos é o que vem tentando mostrar o Acorn House, em Londres, que diz usar ingredientes produzidos de forma sustentável por produtores independentes, transformar todas as sobras em adubo ou lixo reciclável e usar fontes renováveis de energia o máximo possível. E a tentativa de ser um restaurante ambientalmente correto felizmente tem tido sucesso e aponta uma nova tendência. Incluído na nova edição do London Restaurant Guide, o guia de restaurantes oficial da capital britânica, o Acorn House tem recebido críticas elogiosas e para o jornal The Observer trata-se do "restaurante mais ético da Grã-Bretanha".

O chef do restaurante, Arthur Pott-Dawson, afirma que em um ano a idéia de um restaurante ecológico já provou ser viável financeiramente. "Se você compra os produtos da estação e produzidos localmente, sai mais barato. Estamos recebendo um grande apoio do público e não estamos perdendo dinheiro. Dentro de seis meses ou um ano seremos um modelo comercial de sucesso”, disse o chef em entrevista a BBC, afirmando que apenas deseja que as pessoas se conscientizem de como seu comportamento afeta o meio ambiente e de que há alternativas possíveis ao atual estilo de vida.

Perigo para tubarões e raias

Mais de 40% das espécies de tubarões e raias no Mar Mediterrâneo estão ameaçadas de extinção. A informação foi divulgada em um novo relatório da IUCN (World Conservation Union) e classifica o Mediterrâneo como um dos lugares mais perigosos do mundo para estes animais. A principal causa da ameaça é a sobrepesca, associada a eventos nos quais outros animais são capturados incidentalmente durante a pesca – bycatch, em inglês. Mas o levantamento também identificou problemas como destruição do habitat, pesca esportiva e outros distúrbios causados pelo homem.

O índice de tubarões e raias em perigo foi resultado de um workshop de especialistas no qual o status de 71 espécies foi avaliado de acordo com critérios da IUCN Red List (lista oficial dos animais ameaçados de extinção). A conclusão foi que 30 espécies se classificavam como ameaçadas, sendo 13 na categoria Criticamente Ameaçada, oito como Ameaçada e 9 como Vulnerável. Outras 18 espécies foram avaliadas como Quase Ameaçadas. Apenas 10 espécies são consideradas como Sem Ameaça (Least Concern) e 18 espécies não tiveram dados suficientes para serem classificadas.

Abelhas em prol da Amazônia

O processo de dispersão de sementes da árvore Angelim-rajado por abelhas sem ferrão do gênero Melipona foi testemunhado e registrado por especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) ao longo de um ano no campo. A constatação dos pesquisadores do Inpa, divulgada em dezembro, é de extrema importância por duas razões principais: a espécie madeireira em questão está presente na vida dos povos tradicionais da floresta e tem alto valor comercial e este é o terceiro caso no mundo, comprovado cientificamente, de melitocoria, a dispersão de sementes de plantas por abelhas. A dispersão da Angelim-rajado surpreendeu os pesquisadores pelo grande tamanho da semente carregada com resina pelas operárias. Estima-se que as abelhas sem ferrão são responsáveis por 30% a 90% da polinização de plantas em diferentes biomas brasileiros e na Amazônia a participação é acentuada, pois a floresta concentra a maior variedade desse tipo de abelha do mundo. A Angelim-rajado é muito usada na construção de paredes de casas ou no entalhe de móveis, como mesas e cadeiras.

Risco à espécie humana

Que a agressão ao meio ambiente compromete a qualidade de vida do homem todos já sabem. Mas segundo um relatório da ONU divulgado em outubro, a falta de providências contra alguns dos principais problemas ambientais que afetam o planeta estão colocando em risco a própria sobrevivência da espécie humana. "Problemas persistentes e difíceis de resolver continuam sem ser enfrentados, sem solução", disse o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, na época do lançamento do relatório.

O relatório Panorama Ambiental Global analisa as principais mudanças nas condições da água, do ar, da terra e da biodiversidade do planeta desde 1987 e identifica prioridades de ação. Entre os principais problemas identificados estão a degradação de áreas agrícolas, o desmatamento, a redução das fontes de água potável disponíveis e a pesca excessiva. "Problemas do passado continuam e novos estão surgindo: do crescimento acelerado das áreas sem oxigênio nos oceanos ao surgimento de novas e velhas doenças, ligadas em parte à degradação ambiental”, ressaltou Steiner.

Medicina sem crueldade

A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) dá exemplo no que diz respeito à revisão de técnicas de ensino em prol da não crueldade contra animais. A direção do curso de medicina da Universidade anunciou em outubro que anestesiar animais de rua, na maioria cães, para ensinar procedimentos médicos como suturas, incisões e punções deixou de fazer parte da rotina dos seus professores e alunos. O curso montou um laboratório para as aulas práticas de técnica operatória com simuladores plásticos e sangue artificial. "Queríamos acabar com um problema que sempre existiu nas faculdades de medicina. Algumas criam os animais para usá-los nas aulas, ainda vivos. Mas, e depois, o que se faz com eles? Uma eutanásia provocada? Alguém vai passar a cuidar deles?", questiona o diretor da faculdade de medicina da UFRGS, Mauro Czepienewski. O diretor diz que os estudantes e professores se deparavam com um problema moral, de ter que abrir um cão vivo e, em seguida, descartá-lo.

O professor adjunto de urologia e um dos coordenadores do Laboratório de Técnica Operatória e Habilidades Cirúrgicas, Milton Berger, afirma que os alunos se sentem muito mais seguros para aprender. "O novo método tranqüiliza. Muitos tinham pena de treinar em cães. Os simuladores são mais próximos ao corpo humano, além de acabar com uma série de implicações morais."

Fontes: BBC Brasil, Agência Envolverde, Ambiente Brasil, Arca Brasil, O Eco

*Notas publicadas no informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 76 (novembro/dezembro 2007)