segunda-feira, novembro 30, 2009

Artigo sobre Direitos dos Grandes Primatas na Revista Galileu

Charge: Revista Galileu


Homem Primata (pág. 96, Revista Galileu - dezembro 2009)

http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG87243-7962,00-HOMEM+PRIMATA.html

por Jaqueline B. Ramos (jornalista ambiental e Gerente de Comunicação do Great Ape Project - GAP - www.projetogap.org.br)

Biologicamente falando, os seres humanos não são nada além de grandes primatas. Guardamos com as outras quatro espécies deste grupo inúmeras semelhanças, inclusive genéticas e comportamentais. Mas não há duvida de que em termos racionais somos mais desenvolvidos. Agora, em pleno século XXI, temos que começar a arcar com as responsabilidades que essa racionalidade nos traz. E apoiar a Declaração Mundial dos Direitos dos Grandes Primatas é justamente entender essa posição especial que o ser humano ocupa no meio natural, ao lado de outros seres vivos.

Direito à vida, à liberdade e à não-tortura. Entendemos que chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos são tão merecedores da concessão desses direitos quanto os seres humanos. Não que os outros animais não mereçam respeito e que todos os abusos praticados contra eles não devam ser condenados. Mas no caso dos grandes primatas isso fica mais evidente devido à sua proximidade conosco. Não podemos abrir mão de cuidar dos nossos primos evolutivos e ter isso como uma bandeira de uma grande causa.

A declaração é bem clara em seus princípios. Defendemos que a vida de todos os grandes primatas deve ser protegida e que seus membros não podem ser mortos, exceto em circunstâncias estritamente definidas, como, por exemplo, legítima defesa. Que os grandes primatas não podem ser privados arbitrariamente da sua liberdade, tendo o direito de viver livres em seu habitat e que, em cativeiro, têm o direito de viver com dignidade e serem protegidos da exploração comercial. E que a imposição deliberada de dor intensa, física ou psíquica, sem motivo ou por um suposto benefício de outros, é considerada uma tortura e é uma ofensa da qual devem ser protegidos.

Aqui no Projeto GAP defendemos essa proposta desde seu surgimento na década de 90. Os quatro santuários afiliados ao projeto no Brasil abrigam mais de 70 chimpanzés, que em sua maioria foram resgatados de situações de maus-tratos e condições inadequadas de vida em circos, espetáculos e zoológicos. O dia-a-dia nos santuários reforça a percepção que temos do grau de humanidade dos chimpanzés e demonstra o quanto a privação dos direitos propostos na declaração pode gerar sofrimento e seqüelas, algumas vezes irreversíveis, em nossos parentes mais próximos no mundo animal. E se isso pode ser evitado, por que não fazê-lo? Afinal de contas, como os parentes mais "espertos", isto é o mínimo que devemos fazer.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Parceria


O Ambiente-se fez uma parceria com o projeto Rio Vivo, da TV Band Vale, para publicação das matérias no blog do projeto. Veja aqui.

terça-feira, setembro 29, 2009

RECICLAGEM: TECNOLOGIAS E MATERIAIS

Por Jaqueline B. Ramos *

Para ter uma conduta sustentável no dia-a-dia, todo mundo deve ter em mente o conceito dos 5Rs: Repensar os hábitos de consumo e descarte, Recusar e não consumir produtos que prejudicam o meio ambiente e a saúde, Reduzir o consumo desnecessário, Reutilizar e recuperar ao máximo antes de descartar e, finalmente, promover a Reciclagem dos materiais descartados.

Em linhas gerais, a Reciclagem promove benefícios não só ambientais, mas também sociais e econômicos. Além de diminuir a pressão sobre os recursos naturais, processos de reciclagem geram trabalho e renda para um grande número de pessoas. A reciclagem converte, através de processos industriais e, em alguns casos, até artesanais, a matéria-prima do lixo descartado em produto semelhante ao inicial ou em outro produto.

O primeiro passo para entender a reciclagem é mudar o conceito que se tem de lixo como uma coisa suja e inútil. A verdade é que, por conta de diferentes tecnologias e materiais, é possível trazer de volta ao ciclo produtivo o que tinha sido jogado fora. Daí a origem do nome Re – repetir - e cycle (ciclo, em inglês).

Mesmo sem um marco regulatório para a reciclagem, o Brasil consegue movimentar cerca de R$ 8 bilhões anuais com o setor, gerando renda a 800 mil catadores, mantendo 550 cooperativas e empregando formalmente 50 mil pessoas em indústrias destinadas ao reaproveitamento do lixo seco. Hoje a reciclagem atinge 12% do lixo urbano no país, com potencial para atingir muito mais se os processos passarem a ter mais incentivo do Poder Público.

Veja a seguir um panorama das tecnologias e métodos de reciclagem de diferentes materiais já colocados em prática:

Aço

A reciclagem do aço é tão antiga quanto a própria história da utilização do metal pela humanidade. A lata jogada no lixo pode voltar infinitas vezes em forma de tesoura, maçaneta, arame, automóvel ou uma nova lata. O aço se funde à temperatura de 1.300 graus centígrados e assume um novo formato sem perder suas características de dureza, resistência e versatilidade. Ou seja, ele é infinitamente reciclado.

A ferrugem (oxidação) que vai consumindo o aço colocado em contato com a natureza faz com ele seja o único material de embalagem degradável num prazo médio de 3 anos. Reutilizar a lata de aço é outra forma de economizar energia, matéria-prima e tratamento do lixo.

Alumínio

O alumínio é um dos materiais que tem maior reciclabilidade, ou seja, pode ser produzido inúmeras vezes sem perder suas qualidades no processo de reaproveitamento. O exemplo clássico é a lata de alumínio para bebidas, que após processo industrial se transforma novamente em lata e pode voltar ao ciclo de produção de forma infinita.

A reciclagem de alumínio é feita tanto a partir de sobras do próprio processo de produção como de sucata gerada por produtos com vida útil esgotada. Na verdade a reciclagem tornou-se uma característica intrínseca da produção de alumínio, pois as empresas sempre tiveram a preocupação de reaproveitar retalhos de chapas, perfis e laminados gerados durante o processo de fabricação.

A cada quilo de alumínio reciclado, cinco quilos de bauxita (minério de onde se produz o alumínio) são poupados. Para se reciclar uma tonelada de alumínio gasta-se somente 5% da energia que seria necessária para se produzir a mesma quantidade de alumínio primário.

Embalagens PET

Quando reciclada, a embalagem PET (polietileno tereftalato) tem inúmeras vantagens sobre outras embalagens do ponto vista da energia consumida, consumo de água, impacto ambiental e benefícios sociais. O polímero de PET é um poliéster, um dos plásticos mais reciclados em todo o mundo devido a sua extensa gama de aplicações: fibras têxteis, tapetes, carpetes, não-tecidos, embalagens, filmes, fitas, cordas, compostos, entre outros.

A reciclagem de PET pode ser dividida em quatro etapas: coleta, seleção, revalorização e transformação. As etapas de coleta e seleção representam o grande desafio da reciclagem do PET pós-consumo. Milhões de dólares são gastos em logística, distribuição e marketing para que os consumidores comprem produtos embalados em PET.

A etapa de transformação utiliza o material revalorizado e o transforma em outro produto vendável, o produto reciclado. A etapa de revalorização realiza a descontaminação e adequação do material coletado e selecionado para que possa ser utilizado como matéria prima na indústria de transformação. A embalagem PET é 100% reciclável.

Embalagens Tetrapak

Uma das novidades da reciclagem da embalagem longa-vida / tetra pak é o processo Plasma. Por esse método, papel, alumínio e plástico da embalagem são reaproveitados. Antes, somente o papelão era reciclado. O processo foi desenvolvido no Brasil pelas empresas Tetra Pak, Klabin e TSL Ambiental.O sistema já despertou interesse de outros países e usa energia elétrica para produzir um jato de plasma e aquecer a 15 mil graus Celsius a mistura de plástico e alumínio. Assim, o plástico é transformado em parafina e o alumínio é recuperado. Um dos projetos que mais faz sucesso utilizando esta tecnologia é a transformação do plástico e alumínio das embalagens em placas e telhas recicladas para construção civil.

Entulho

O maior problema para a reciclagem de entulho é o desperdício e a disposição inadequada em terrenos baldios e margens de rios. Os custos destes problemas são distribuídos por toda a sociedade, não só pelo aumento do custo final das construções como também pelos custos de remoção e tratamento do entulho.

Os resíduos de construção e demolição consistem em concreto, estuque, telhas, metais, madeira, gesso, aglomerados, pedras, carpetes etc. Muitos desses materiais e a maior parte do asfalto e do concreto utilizado em obras podem ser reciclados. É possível produzir agregados - areia, brita e bica corrida para uso em pavimentação, contenção de encostas, canalização de córregos, e uso em argamassas e concreto. Da mesma maneira, pode-se fabricar componentes de construção - blocos, briquetes, tubos para drenagem, placas.

A reciclagem de entulho pode ser realizada com instalações e equipamentos de baixo custo, apesar de existirem opções mais sofisticadas tecnologicamente. Havendo condições, pode ser realizado na própria obra que gera o resíduo, eliminando os custos de transporte.

Papel

A reciclagem do papel é tão importante quanto sua fabricação, pois a matéria-prima do produto já está escassa devido a todos os problemas de desmatamento de florestas. Na fabricação de uma tonelada de papel a partir de papel usado, o consumo de água é muitas vezes menor e o consumo de energia cai pela metade. Economizam-se 2,5 barris de petróleo, 98 mil litros de água e 2.500 kw/h de energia elétrica com uma tonelada de papel reciclado.

O papel reciclado pode ser aplicado em caixas de papelão, sacolas, embalagens para ovos, bandejas para frutas, papel higiênico, cadernos e livros, material de escritório, envelopes, papel para impressão, entre outros usos.

Pneus

O surgimento dos pneus de borracha fez com que fossem substituídas as rodas de madeira e ferro, usadas em carroças e carruagens desde os primórdios da História. Porém, a utilização dos pneus de borracha trouxe consigo a problemática do impacto ambiental, uma vez que a maior parte dos pneus descartados fica abandonado em locais inadequados e causa grandes transtornos para a saúde e a qualidade de vidas humanas.

Uma forma encontrada para amenizar esse impacto foi a utilização das metodologias de reciclagem e reaproveitamento, como a recauchutagem, que tem sido um mecanismo bastante utilizado para conter o descarte de pneus usados. Esta técnica permite que o recauchutador adicione novas camadas de borracha nos pneus velhos, aumentando a vida útil do pneu em 100% e proporcionando uma economia de cerca de 80% de energia e matéria-prima em relação à produção de pneus novos.

O processo de recuperação e regeneração dos pneus exige a separação da borracha vulcanizada de outros componentes (como metais e tecidos, por exemplo). Os pneus são cortados em lascas e purificados por um sistema de peneiras. As lascas são moídas e depois submetidas à digestão em vapor d'água e produtos químicos, como álcalis e óleos minerais, para desvulcanizá-las.

Vidro

O vidro é uma mistura de areia, barrilha, calcário, feldspato e aditivos que, derretidos a cerca de 1.550°C, formam uma massa semi-líquida que dá origem a embalagens ou a vidros planos. O principal componente do vidro é a sílica. É possível fazer vidro só com a fusão da sílica. Boa parte dessas matérias primas é importada ou provém de jazidas em franco esgotamento.

Na reciclagem do vidro, o caco funciona como matéria-prima já balanceada, podendo substituir o feldspato que tem função fundente, pois o caco precisa de menos temperatura para fundir. Os cacos devem ser separados por cor (transparente, marrom e verde). O vidro comum funde a uma temperatura entre 1000oC e 1200oC, enquanto que a temperatura de fusão da fabricação do vidro, a partir dos minérios, ocorre entre 1500 oC e 1600 oC.

A fabricação do vidro a partir dos cacos economiza energia gasta na extração, beneficiamento e transporte dos minérios não utilizados. A economia de energia é a principal vantagem do processo.

Fontes: Ambiente Brasil, Cempre, Tetrapak

DADOS E CURIOSIDADES SOBRE RECICLAGEM

Fonte: Ambiente Brasil

*Publicado na edição n. 86 (julho/agosto 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung

CURTAS AMBIENTAIS

Por Jaqueline B. Ramos*

Amazônia em regeneração

De acordo com recente levantamento consolidado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), cerca de 20% das áreas desmatadas na Amazônia possuem florestas em regeneração. É a primeira vez que essas matas secundárias - também chamadas capoeiras - são mapeadas em detalhe, com base em imagens de satélite.Os resultados já estão prontos para os Estados de Mato Grosso, Pará e Amapá, que juntos têm uma média de 19,5% de áreas desmatadas em regeneração. Os demais Estados serão mapeados até o fim do ano e segundo pesquisadores do Inpe a média não deve variar muito.

Vistas do solo, as capoeiras podem até parecer uma floresta nativa, com árvores grandes. Porém, vários estudos relatam que elas dificilmente recuperam a biodiversidade das florestas primárias que foram derrubadas. São tipicamente formadas por menos espécies, tanto de flora quanto de fauna, e têm menos biomassa - o que significa, também, menos carbono.

Mapa climático circuito Rio-SP

As maiores cidades brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo, terão seus riscos e impactos do aquecimento global mapeados por um estudo inédito do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em conjunto com a Unicamp. O projeto foi anunciado em julho e segundo o pesquisador Carlos Nobre, coordenador do mapeamento pelo Inpe, a idéia é traçar os principais impactos e propor ações para amenizar os efeitos do aquecimento global nas duas cidades.

O mapeamento no Rio e SP consiste numa proposta piloto que servirá para posterior aplicação em outras metrópoles brasileiras. Os cientistas pretendem detalhar as vulnerabilidades a partir de um conjunto de dados sobre as duas cidades que inclui aspectos urbanos, socieconômicos e geográficos. A previsão é que o estudo esteja concluído em 2010, para ser apresentado aos governos federal, estadual e municipal para a tomada de decisões sobre as ações propostas para minimizar os efeitos do aquecimento global.

Parque Eólico Brasileiro

No mês de agosto o Brasil ganhou um novo Parque Eólico, localizado no Ceará. O empreendimento é fruto da aliança entre dois grandes líderes no setor energético na América Latina: Cemig e IMPSA. Com 325 hectares e 19 aerogeradores, o Parque Eólico de Praias de Parajuru funcionará em conjunto com outras duass usinas a serem construídas no estado: Praia do Morgado e Volta do Rio.

Juntas, as três usinas terão capacidade para gerar 99,6 MW. A intenção é que nos próximos 20 anos esta energia gerada seja comercializada para a Eletrobrás. Os parques eólicos fazem parte do Programa de Incentivo a Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), desenvolvido pelo Governo Federal, sob coordenação do Ministério de Minas e Energia (MME). A iniciativa visa fomentar o desenvolvimento das fontes renováveis como as eólicas, biomassas, solares, e de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s).

Bolívia sai na frente contra a exploração de animais em circos

A Bolívia saiu na frente no movimento contra o uso de animais em circos. Em julho o presidente Evo Morales assinou uma nova lei que proíbe o uso de qualquer animal em circo. Países como Áustria, Costa Rica, Finlândia e Dinamarca já proíbem há alguns anos animais em circos, mas apenas animais selvagens ou de determinadas espécies. A lei boliviana é a primeira do mundo que proíbe tanto o uso de animais domésticos como selvagens nos picadeiros.

A lei, apresentada pela congressista Ximena Flores of Potosi, surgiu como resultado das evidências de maus-tratos encontradas em uma investigação secreta realizada por uma ONG de proteção animal. Ela considera que o confinamento, privação e maus-tratos impostos aos animais nos circos são atos de crueldade extrema. Os circos terão o prazo de um ano para adequar-se completamente à nova regra, e durante esse período serão duramente fiscalizados pelo governo.

Corais em perigo

Nos últimos meses vários foram os alertas dados por cientistas a respeito dos riscos de extinção de importantes recifes de corais. O renomado cientista Charlie Veron, líder científico do Instituto Australiano de Ciência Marinha, declarou à imprensa mundial que “Não há saída. A Grande Barreira de Corais da Austrália vai desaparecer em 20 anos ou menos.”

“Quando se atingir os altos índices de dióxido de carbono previstos para o período de 2030 e 2060, todos os recifes de corais estarão condenados à extinção. Eles serão os primeiros ecossistemas do mundo a entrar em colapso. Isso é atestado por todos os cientistas e organizações que estudam corais”, alerta Veron.

Alex Rogers, da Sociedade Zoológica de Londres e do Programa Internacional sobre o Estado do Oceano, também declarou recentemente: "A cozinha pegou fogo e o incêndio se espalha pela casa. Se agirmos de modo rápido e decisivo, poderemos apagá-lo antes que o dano se torne irreversível".

Em linhas gerais os cientistas ressaltam que oceanos cada vez mais ácidos e águas cada vez mais quentes, por causa das emissões de dióxido de carbono, podem extinguir os recifes dos mares até o fim deste século Os oceanos absorvem grandes quantidades de CO2 emitido pela queima de combustíveis fósseis e esta absorção prejudica o processo de calcificação usado por criaturas marinhas para criar conchas e os recifes de coral.

Raio-X do ambiente aquático

Paralelo aos alertas dos perigos sofridos pelos corais, no Brasil o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o documento Fauna Ameaçada de Extinção: Invertebrados Aquáticos e Peixes – 2009. O documento é o quarto e último de uma série lançada pelo órgão, desde 2006, trazendo informações sobre aves; mamíferos, répteis e anfíbios; e insetos e outros invertebrados terrestres que podem entrar em extinção, totalizando uma lista de 632 espécies.

No documento recém-lançado, afirma-se que atualmente há no país 238 espécies e subespécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados de extinção. Entre elas, 41 apresentam estado mais crítico, como o marisco-do-junco, o ouriço-do-mar irregular, o cação-bico-doce e o surubim.A maioria desses animais com risco de desaparecer tem seu habitat em regiões de Mata Atlântica e em estados litorâneos, onde a ação do homem, principalmente com o crescimento das construções imobiliárias, interfere no ciclo natural das espécies.

Segundo Lícia Leone Couto, bióloga do IBGE, a extinção dos animais está ligada à atividade humana. "A principal causa de extinção é a destruição do habitat das espécies e isso ocorre prioritariamente pela ação do homem. Por isso, o mapa aponta maior risco de extinção de animais que têm maior ocorrência em cidades costeiras, que têm grande atividade de construções imobiliárias", explicou.

Medicina sem vivissecação

Passados dois anos desde que o sacrifício de animais foi abolido no curso de Medicina da UFRGS, professores e alunos estão muito satisfeitos. Conflito ético sobre o uso de animais vivos foi o principal motivo para a troca por modelos artificiais nas aulas práticas.

Alunos e professores garantem não haver nenhum prejuízo para o aprendizado médico. “Abolimos o uso de animais porque hoje não se precisa mais disso”, destaca o diretor da Famed, o médico endocrinologista Mauro Antônio Czepielewski. Não faltaram razões, pois havia alunos que não concordavam com o sacrifício dos cães e outros bichos nas aulas. Além da questão ética, a pressão das entidades protetoras dos animais era cada vez maior, conta o diretor.

A mudança foi bastante discutida, e resultou na implantação de um Laboratório de Técnica Operatória, que funciona apenas com réplicas artificiais das partes do corpo humano, explica o diretor. O projeto todo, com reforma de instalações e aquisição dos modelos, importados, custou cerca de R$ 300 mil, com recursos da própria Ufrgs, Famed, Hospital de Clínicas (o hospital universitário) e Promed, um programa do Ministério da Saúde que incentiva mudanças nos currículos dos cursos de medicina.

Em busca da pecuária ambientalmente correta

Depois de sofrer problemas com a comercialização de gado criado em áreas de desmatamento e após um mês de negociação, os dois maiores frigoríficos do Pará e o governo do estado assinaram um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) para adequar a produção pecuária às regras ambientais.

O termo de ajuste de conduta assinado com os frigoríficos Bertin e Minerva prevê uma moratória ao desmatamento, ou seja, as empresas compradoras vão exigir que os pequenos fornecedores comprovem que o gado não foi criado em área desflorestada ilegalmente, embargadas ou que utilizem mão de obra análoga à escravidão. Além disso, deverão exigir o reflorestamento de áreas degradadas e o licenciamento ambiental.

Os frigoríficos terão que informar a origem da carne aos consumidores e ao MPF, que vai checar a existência de trabalho escravo, crimes ambientais ou problemas fundiários, como de grilagem ou invasão de terras indígenas e unidades de conservação.Com a assinatura do acordo, as empresas que receberam a recomendação do MPF para encerrar os contratos com os frigoríficos poderão retomar as operações, entre eles os grupos Pão de Açúcar, Carrefour e Wal Mart, que suspenderam as compras de carne dessas empresas desde o mês de junho.

Mata Atlântica on line

No mês de julho, o Instituto BioAtlântica lançou a plataforma GeoAtlântica, que contém dados sobre o bioma mais ameaçado no Brasil: a Mata Atlântica. Mais de 50 fontes contribuíram para a consolidação da base de dados, que inclui informações sobre infra-estrutura, estradas, vias, dutos, portos, hidrelétricas. Foram listadas todas as Unidades de Conservação, federais, municipais e particulares, sendo a base mais completa sobre as UCs nas regiões que agregam a Mata Atlântica..O acesso é gratuito e visa auxiliar no planejamento de ações ambientais. O usuário pode fazer consultas e montar mapas específicos usando filtros e combinando os dados da maneira que julgar necessário. A ideia é que a ferramenta funcione como um suporte para a tomada de decisões no que diz respeito à preservação e conservação da floresta. A plataforma pode ser acessada pelo endereço: www.bioatlantica.org.br/geoatlantica

Brasil na liderança do comércio de agrotóxicos

De acordo com estudo da consultoria alemã Kleffmann Group, o Brasil é atualmente o maior mercado de agrotóxicos do mundo. O levantamento foi encomendado pela Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que representa os fabricantes, e mostra que essa indústria movimentou no ano passado US$ 7,1 bilhões. O segundo colocado são os Estados Unidos, com US$ 6,6 bilhões.

Em 2007, a indústria nacional girou US$ 5,4 bilhões, segundo Lars Schobinger, presidente da Kleffmann Group no Brasil. O consumo cresceu no país, apesar de a área plantada ter encolhido 2% em um ano.

Mesmo liderando o comércio, o consumo por hectare ainda é pequeno em relação a outros países. De acordo com o levantamento, o gasto do produtor brasileiro com agrotóxico ainda é pequeno. Em 2007, gastou-se US$ 87,83 por hectare. Na França, os produtores desembolsaram US$ 196,79 por hectare, enquanto no Japão a despesa foi de US$ 851,04.

Ajuda para descarte adequado de baterias e óleo de cozinha

O consumidor brasileiro tem mais duas opções para fazer o descarte de alguns resíduos mais complexos de forma ambientalmente correta. Pilhas e baterias usadas podem ser levadas às agências do Banco Real e colocadas no Papa-Pilhas.

As pilhas e baterias de celulares, câmeras digitais, controle remoto, relógios etc contém materiais que contaminam o solo e os lençóis freáticos, deixando-os impróprios para utilização e consumo. Por isso a necessidade do descarte adequado e especial, e não simplesmente no lixo comum.

Na mesma linha está o óleo de cozinha usado, que despejado na rede de esgoto pode contaminar uma grande quantidade e água – calcula-se que um litro de óleo contamine um milhão de litros de água. Sem contar que ainda provoca a impermeabilização dos leitos e terrenos próximos, contribuindo para a ocorrência de enchentes.

Óleo de cozinha usado pode ser levado em recipientes de plástico ou vidro para qualquer loja das redes Pão de Açúcar e Extra. Todo óleo de cozinha coletado será encaminhado para cooperativas e empresas recicladoras, que o utilizarão como matéria-prima para a produção de biocombustível.

Fontes: Ambiente Brasil, ENN, Ecoagência de Notícias, Portal do Meio Ambiente

*Publicado na edição n. 86 (Julho/Agosto 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung

quinta-feira, agosto 13, 2009

O PROBLEMA DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA


Por Jaqueline B. Ramos*

Os impactos ambientais da chamada pecuária industrial, ou pecuária em larga escala, foram alertados pela primeira vez em nível mundial pela ONU em 2006. Neste ano a FAO, agência da ONU para Agricultura e Alimentação, lançou o relatório “A Grande Sombra dos Estoques Vivos: questões ambientais e opções" (Lifestock's Long Shadow: environmental issues and options, em inglês). O documento analisou os impactos ambientais relacionados a toda a cadeia da pecuária industrial. Entre os resultados mais alarmantes estava a conclusão de que a indústria da carne (que inclui todos os seus derivados) é responsável por nada mais nada menos do que 18% do total das emissões de gases causadores do aquecimento global, valor maior que a soma da poluição causada por todos os meios de transporte (13%).

As discussões sobre a problemática ambiental da pecuária não poderiam excluir o Brasil, que atualmente é o segundo maior produtor e maior exportador de carne bovina do mundo. Uma análise mais crítica da relação direta da pecuária bovina com o desmatamento de uma das suas maiores riquezas, a Amazônia, passou a ser inevitável. Em 2008, a OSCIP “Amigos da Terra – Amazônia Brasileira” lançou o relatório “O Reino do Gado”, cujo principal alerta é que “a pecuarização da Amazônia se intensificou de maneira sem precedentes ao longo dos últimos cinco anos e o fenômeno requer uma atenção nova e especial, em quantidade e qualidade, por parte das autoridades governamentais, da cadeia comercial, de instituições financeiras, cientistas e organizações da sociedade civil.” (ver mais dados no boxe).

Os dados já alarmantes divulgados pela “Amigos da Terra” se reforçaram recentemente com um trabalho investigativo realizado pela ONG Greenpeace e consolidado num relatório intitulado “A Farra do Boi na Amazônia”, lançado no início de junho. Em linhas gerais, o relatório alerta sobre a relação direta do desmatamento da floresta com o avanço do gado (ver gráfico) e ressalta o fato de que a carne e couro produzidos à custa de irregularidades ambientais chega a continentes como a América do Norte, Europa e até Ásia.

O documento aponta, por exemplo, grandes frigoríficos exportadores – corporações como Bertin, JBS e Marfrig - negociando gado oriundo de terra indígena e áreas embargadas pelo Ibama por excesso de desmatamento. “Este relatório é fruto de um trabalho de três anos de investigação de oito escritórios do Greenpeace pelo mundo, que mapearam a cadeia produtiva da pecuária do desmatamento patrocinado por grandes frigoríficos exportadores até a chegada aos consumidores dentro e fora do Brasil”, explica Márcio Astrini, coordenador da Campanha Desmatamento Zero Amazônia do Greenpeace, ressaltando que uma ação civil pública impetrada pelo Ministério Pública do Pará contra as atividades ilegais dos frigoríficos reforçou as evidências do relatório.

Governo é sócio no desmatamento: Uma das maiores críticas feitas pelo Greenpeace no relatório é o fato do governo brasileiro investir em grandes companhias do setor pecuário por meio do BNDES. Em outras palavras, mega empreendimentos em conjunto com o governo patrocinam o desmatamento da floresta. “Na verdade, o BNDES tem ações nestas empresas, quer dizer, tem porcentagem no lucro. Após a divulgação do relatório o banco decidiu rescindir o contrato e cobrou explicações sobre as denúncias de ilegalidade”, diz Astrini.

Além da decisão do BNDES, a repercussão da investigação do Greenpeace já proporcionou algumas vitórias. Em meados de junho o Banco Mundial também declarou a rescisão de contrato de empréstimo de US 90 milhões com a Bertin até a empresa apresentar explicações sobre as irregularidades ambientais. E grandes redes de supermercados como Wall Mart, Carrefour e Pão de Açúcar e marcas mundiais como Timberland, Adidas, Nike, Reebok, Hugo Boss, Gucci e Prada exigiram garantias sobre o couro proveniente dos frigoríficos citados no relatório.

“Agora vamos acompanhar os compromissos feitos por estas grandes redes, pressionar os frigoríficos e cobrar uma posição oficial do Governo Brasileiro, que até 20 depois do lançamento do relatório não tinha se pronunciado oficialmente”, informa Astrini.

O papel do consumidor: Não é difícil concluir que a pecuária, associada ao desmatamento ilegal, é uma atividade colonizadora que não tem competidores no mesmo nível capazes de valorizar a floresta em pé. Manejo florestal e serviços ambientais ainda não fazem parte das opções econômicas da Amazônia de forma séria e contundente. Diante desse cenário, quais seriam os caminhos para mitigar o conflito pecuária X floresta em pé?

“O maior desafio é montar uma sistemática de produção pecuária que seja responsável e sustentável em termos de sócio-biodiversidade. Para isso, são necessárias medidas que passam por responsabilizar a produção quanto ao cumprimento da legislação ambiental e trabalhista, implantação de rastreabilidade no rebanho e de melhores práticas que aliem produtividade e conservação Essas são premissas de sustentabilidade que quebram a performance atual de rentabilidade às custas de terra barata e sem cuidados, migratória sobre a floresta”, explica Paulo Gustavo Prado, diretor de Política Ambiental da Conservação Internacional (CI-Brasil).

E é justamente nessa cobrança de critérios de sustentabilidade que entra a responsabilidade do consumidor. “O papel do consumidor é o de sempre exigir sustentabilidade e boas práticas como garantia de conservação do meio ambiente e das culturas tradicionais que existem no norte do Cerrado e na Amazônia”, diz Prado. “Temos um passo a passo no nosso site para o consumidor se informar sobre o que deve fazer para não consumir produtos advindos do desmatamento da Amazônia. Nossa orientação é que as pessoas se informem sobre o problema, conheçam os seus direitos como consumidor e comprem somente das empresas que assumiram publicamente o compromisso de lutar contra o desmatamento”, conclui Astrini.

Saiba mais:

Relatório “A Farra do Boi na Amazônia” e dicas do que o consumidor pode fazer - http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/gado

Relatório “O Reino do Gado” - http://www.amazonia.org.br/arquivos/259381.pdf

Floresta na “pata do boi”

• O rebanho bovino na Amazônia Legal atingiu aproximadamente 74 milhões de cabeças de gado, ou 3,3 por habitante, o triplo da média nacional. No Mato Grosso chega-se a 9,3 cabeças por habitante e em Rondônia, 7,7.

• De cada quatro cabeças adicionais de gado no Brasil nos últimos 5 anos, 3 são oriundas da Amazônia.

• Entre dezembro de 2003 e dezembro de 2006 quase não houve crescimento no rebanho fora da Amazônia Legal, sendo que 96% de todo o crescimento registrado no período no país são oriundos da Amazônia.

• O aumento na produção de carne na Amazônia (estimado em aproximadamente 1,5 milhão de toneladas equivalente-carcaça (designa o peso da carne produzida, com osso ou desossada, dependendo do caso) ao longo dos últimos cinco anos) supera o aumento na exportação registrado ao longo do mesmo período (aproximadamente 1,4 milhão de toneladas equivalente-carcaça).

• Um terço das exportações brasileiras de carne in natura em 2007 é oriunda de exportação direta da Amazônia, notadamente dos estados de Mata Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins. Desde 2004 o Pará aumentou sua exportação direta (em peso) em 7800%, Rondônia em 1350%, Tocantins em 150% e Mato Grosso em 360%.

Fonte: Relatório “O Reino do Gado” (Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, 2008)

O pesadelo da MP 458

Além dos números alarmantes da pecuária avançando na Amazônia, a floresta sofreu outro duro golpe recentemente. Dessa vez diretamente do Governo Brasileiro, que aprovou a Medida Provisória 458, sancionada pelo Presidente Lula com apenas um veto no final de junho.

A MP determina que 67,4 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia serão privatizadas para seus novos proprietários praticamente sem custo e sem a fiscalização do Estado. As áreas ocupadas de até 100 hectares serão doadas. A partir daí e até 400 hectares, será cobrado apenas um valor simbólico de seus ocupantes. As áreas maiores, com até 1.500 hectares, serão alienadas a valor de mercado, mas com prazo de carência de 20 anos. Na prática isso significa misturar posseiros legítimos com grileiros de terras, regularizando a preço de banana e estimulando, no final, ocupações ilegais.

Em suma, a aprovação da MP 458 é um dos piores pesadelos para ambientalistas e ONGs que vem lutando contra o avanço desenfreado do desmatamento da floresta, estimulado pela ambição econômica. Segundo Paulo Gustavo Prado, diretor de Política Ambiental da Conservação Internacional (CI-Brasil), os principais problemas da MP 458 são:

1 - Não é amarrada ao Zoneamento Ecológico-Econômico e não se antecede fortalecendo as Terras Indígenas e as Unidades de Conservação ali existentes como condição prévia;
2 - Não vende, mas doa a propriedade (aos pequenos) gerando paternalismo e pouco apego à terra, uma vez que os beneficiários podem vendê-la na etapa seguinte e ser solicitante em outra área à frente, mesmo como grileiro, servindo de ponta-de-lança para o agronegócio;
3 - O agronegócio, por sua vez, pode comprar, inclusive como pessoa jurídica, e tem prazo curto para revender;
4 - As pesquisas de cadeia de domínio são expeditas e sem a investigação que seria necessária, podendo validar grileiros.


*Publicada no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 85 (maio/junho 2009). PDF do informativo aqui.

Curtas Ambientais

por Jaqueline B. Ramos*

Irrigação de precisão

A irrigação é considerada a atividade campeã no ranking de desperdício de água. Mas em tempos de necessidade de racionalização do uso de água, a tendência é que atividade passe a utilizar métodos cada vez mais sustentáveis. E a Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq) da USP está contribuindo para isso. Pesquisadores estão desenvolvendo novas técnicas de irrigação que utilizam menos água e obtêmo a mesma eficiência produtiva.

A nova técnica de irrigação utiliza microtubos de polipropileno. Esses microtubos têm diâmetros internos que variam entre 0,6 mm e 1,5 mm. "Os métodos que consomem mais água no meio agrícola estão sendo substituídos gradativamente por métodos que consomem menos água, o que mostra uma significativa conscientização por parte de produtores e da comunidade científica", comenta o professor Tarlei Arriel Botrel, que está coordenando o grupo de pesquisadores da Esalq.

O microtubo é um emissor simples, de baixo custo, com o grande benefício de melhor adaptação em condições de topografias onduladas e montanhosas. E os resultados já alcançados com os microtubos em laboratório atendem ao conceito da irrigação de precisão. Este conceito considera que cada planta se desenvolve de maneira particular, atrelado a fatores como clima, solo e variabilidade genética. Então é feita uma análise da planta em questão e fica estabelecida a demanda hídrica específica, contribuindo assim para o uso racional de água.

Pele de tubarão ecológica

Pesquisadores da Universidade da Flórida estão estudando o processo de fixação de cracas (moluscos) nos cascos de navios com o objetivo de diminuir a poluição “descarregada” nos mares. A formação da camada viva aumenta o arrasto da embarcação em 20%, levando a um consumo maior de combustível em cerca de 40%.

Retirar as cracas dos grandes navios é impraticável. Assim, a única saída é evitar a fixação dos micro-organismos. Descartando a opção de tintas tóxicas (biocidas), comumente usadas por navios militares, os pesquisadores começaram a analisar a própria natureza – mais especificamente os seres marinhos - para buscar uma solução para o problema.

O questionamento inicial foi por que animais como tubarões e baleias não são “atacados” pelo problema. Aí se descobriu que o padrão de pele dos tubarões oferece uma resposta adequada e evita o crescimento do biofilme de cracas. O resultado foi a fabricação de imitações desses padrões em laboratório, uma espécie de pele artificial de tubarão batizada de Sharklet. Além dos resultados positivos no combate à proliferação de cracas, o novo material também inibe o crescimento de bactérias, podendo ser utilizado em hospitais e em outros locais públicos para evitar a proliferação de microorganismos danosos à saúde.

Tubarões, mais uma vez, comprovadamente ameaçados

Enquanto alguns pesquisadores se dão conta do quanto a pele dos tubarões pode ajudar a diminuir a poluição causada pelo combustível de grandes navios, outros atestam 32% das 64 espécies de tubarões e raias de profundidade (pelágicos) estão ameaçadas de extinção. O alerta foi dado em junho pelo grupo de especialistas em tubarões da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

A porcentagem de espécies ameaçadas é maior entre aquelas que são pescadas em alto mar, chegando a 52%. Muitos destes tubarões eram pescados “por acidente” nas atividades de pesca industrial de atum e bacalhau. Mas com o tempo ganharam valor comercial, devido a sua carne e barbatanas serem usadas, principalmente, no mercado asiático.

Os tubarões são muito impactados pela sobrepesca pelo fato de levarem muitos anos para se reproduzir. O grupo de especialistas da IUCN pede que os Governos estabeleçam limites para pesca de tubarões e raias baseados em dados científicos e considerando critérios de preservação.
Aeromóvel finalmente no Brasil

O projeto do aeromóvel, criado pelo engenheiro brasileiro Oskar Coester, data da década de 70 e o máximo que conseguiu “decolar” no Brasil foi a implementação de um trecho de testes em Porto Alegre em 1983. Na Indonésia, o veículo – que não tem piloto ou motores, é movido a ar, impulsionado por grandes ventiladores instalados nas extremidades dos condutores - é usado desde 1989. E finalmente, por conta das obras previstas para a Copa de 2014, o projeto ganhará sua primeira versão prática em solo brasileiro.

Cada vagão do aeromóvel pode transportar 140 passageiros. No Brasil a implantação da primeira linha comercial do veículo será na sua terra natal, Porto Alegre, num trecho de pouco menos de um quilômetro que interligará o Aeroporto Internacional Salgado Filho à estação mais próxima do trem metropolitano. O custo inicial estimado para esta obra é de R$ 30 milhões. “Quando o modelo do aeromóvel for viabilizado (economicamente), poderá suprir necessidades internas do país no transporte automatizado de pessoas e, no futuro, até sistemas de transportes de massa. Melhorar o acesso aos aeroportos é uma necessidade que surgiu com a crise do setor aéreo”, comentou Kasper numa reportagem no site O ECO.

Segundo o seu criador, o aeromóvel resolve um dos principais problemas do transporte urbano nacional: a relação entre peso morto e carga útil. Enquanto a maioria dos carros no país pesa uma tonelada e carrega uma pessoa, o veículo movido a ar muda essa relação para 40 quilos para cada passageiro. Com menos peso, há economia de energia, mais segurança e maior eficiência no transporte público.

Pantanal em risco

Um estudo pioneiro divulgado para a revista Época recentemente revela um alerta (infelizmente) já esperado: o Pantanal, a maior área alagada do mundo sustentada por um frágil equilíbrio entre os períodos de cheia e de seca, já perdeu 40% de sua cobertura vegetal. Os maiores responsáveis apontados pelo estudo são a expansão da pecuária e a produção de carvão vegetal para siderúrgicas.

O mapeamento que levantou o risco em que se encontra o Pantanal foi feito por cinco entidades ambientalistas – WWF Brasil, SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional, Avina e Ecoa. Um detalhamento mostra que embora as áreas de planície estejam bem preservadas, a região das terras altas, onde estão as cabeceiras dos rios responsáveis pelos ciclos de cheia, já tem 58% das matas comprometidas.

A ampliação de pastagens é uma das principais causas do desmatamento no Pantanal. Nos últimos seis anos foram abertos 12.000 quilômetros quadrados de novos pastos na região, o equivalente a dez municípios do Rio de Janeiro. O desmatamento para pastagens somado a queima de vegetação para a produção de carvão cria o cenário que coloca em risco uma das maiores riquezas do Brasil.

Ecossistemas marinhos on line

Já está no ar o site www.wdpa-marine.org., que traz informações completas e atualizadas sobre a situação dos ecossistemas marinhos ao redor do planeta. Construído pelas equipes do Centro Mundial de Monitoramento de Conservação das Nações Unidas (UNEP-WCMC) com a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), o projeto do site visa ajudar os países a reverem suas proporções de ambientes marinhos protegidos – hoje menos e 1% é protegido. De acordo com o portal, as 67 unidades de conservação marinhas brasileiras protegem 16.5% do nosso mar territorial.

Destino final: lixões

De acordo com a própria Associação Brasileira das Empresas de Tratamento de Resíduos (Abetre), a maioria dos municípios no Brasil ainda usa lixões como destinação final de seus resíduos, sem qualquer proteção sanitária. A revelação foi feita recentemente pelo presidente da entidade, Diógenes Del Bel, numa entrevista para a Agência Brasil.

O poder público, nos municípios, ainda não conseguiu sequer erradicar os lixões. Então, nós temos municípios com custo zero na destinação dos seus resíduos”, disse Del Bel na entrevista, ressaltando que inclusive uma parte do lixo industrial é tratada por empresas de pequeno e médio portes que não dão uma destinação adequada.

Apesar das deficiências, Del Bel revelou que as perspectivas de crescimento do setor são boas, principalmente com a introdução de novas tecnologias – que devem ser precedidas pela implantação de políticas públicas. Entre estas tecnologias estão a incineração com recuperação de energia, a manufatura reversa de diversos bens de consumo no fim de vida e a descontaminação de resíduos após o consumo para reaproveitamento.

Brasil pró bem-estar animal

A campanha internacional pelo reconhecimento mundial do bem-estar animal junto à ONU tem o Brasil como um forte aliado. Nós somos o segundo país com maior número de participantes do abaixo-assinado pela Declaração Universal de Bem-Estar Animal – DUBEA, ficando atrás somente dos Estados Unidos. A petição brasileira tem 232 mil assinaturas e a americana, 327 mil.

E em maio uma assinatura muito importante se juntou ao abaixo-assinado brasileiro: a do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A DUBEA foi lançada mundialmente em 2006 pela WSPA - Sociedade Mundial de Proteção Animal lançou, em junho de 2006, com o objetivo de estabelecer critérios uniformes para a proteção dos animais em todo o mundo. A declaração consiste numa espécie de acordo que estabelece diretrizes básicas de bem-estar, reconhecendo os animais como seres sencientes (que têm sentimentos) e sua proteção como importante meta para o pleno desenvolvimento social das nações.
Para assinar a declaração acesse http://www.animalsmatter.org/.

Dentistas verdes

A odontologia também pode ter responsabilidade ambiental. Esta é a proposta da ONG Turma do Bem, que criou o projeto “Dentista Verde”. O projeto propõe práticas sustentáveis aos profissionais de odontologia no cuidado de seus pacientes e do planeta, que são apresentadas no Manual do Dentista Verde.

O manual traz dicas práticas para que os dentistas contribuam com a sustentabilidade do planeta. A publicação orienta os profissionais a incorporarem atitudes concretas em seu dia-a-dia e em seu ambiente de trabalho, como lidar com produção e tratamento de resíduos sólidos, uso de energia, emissão de gases efeito estufa e o relacionamento com fornecedores. A idéia principal é mostrar que pequenas atitudes dão uma grande contribuição para o futuro do planeta.

O manual é um dos itens do kit que será vendido aos dentistas voluntários ligados à Turma do Bem, que hoje somam mais de cinco mil em todos os estados brasileiros. O kit também contém duas latas para coleta de escovas dentais e tubos de pasta de dente usados. Este material será recolhido e entregue a um artista plástico, que criará uma escultura para ser exposta ao público e fomentar a discussão sobre produção de lixo.

Fontes: Ambiente Brasil, O ECO, Revista Época, Agência Brasil, IUCN

*Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 85 (maio/junho 2009). PDF do informativo aqui.

domingo, junho 14, 2009

Selos orgânicos: será que você pode confiar neles?



Por Jaqueline B. Ramos*

O biólogo Ricardo Nehrer é vegetariano há 26 anos e sempre que possível procura comprar alimentos orgânicos. Ele acredita que o consumo de orgânicos significa proteção ao próprio corpo, no sentido integral – físico, mental e emocional – por conta dos agrotóxicos e efeitos sinérgicos dos venenos usados na agricultura tradicional. No entanto, Ricardo diz que além do preço e da disponibilidade dos produtos orgânicos no mercado, uma das dificuldades em relação ao consumo de orgânicos é a certificação, que ainda é uma dúvida que paira sobre os consumidores, principalmente para os que estão em fase transição de dieta.

A vontade de consumir orgânicos indo de encontro às dúvidas sobre a confiabilidade na certificação desse tipo de produto, como colocado por Ricardo, é um questionamento comum entre quase todos os vegetarianos. Primeiramente, onde acho alimentos orgânicos para comprar? E quando acho, o que devo verificar para ter certeza e confiar que realmente estou comprando e consumindo um produto livre de uso de agrotóxicos e outros venenos?

Uma boa notícia é que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) está finalmente regulamentando a atividade no país. Desde o dia 29 de dezembro de 2007 a agricultura orgânica no Brasil passou a ter critérios para o funcionamento de todo o seu sistema de produção, desde a propriedade rural até o ponto de venda. Até então não existia, por mais incrível que isso possa parecer, critérios definidos que regulamentassem a atividade no país – que atualmente tem 15 mil produtores numa área estimada de 800 mil hectares.

O que acontecia é a atuação de mais de 20 certificadoras “carimbando” produtos com o atestado de orgânicos. Para o consumidor final, tamanha diversidade de entidades pode gerar dúvidas em relação à confiabilidade no selo – principalmente os das certificadoras que são menos conhecidas - e à procedência do produto. Em que selo devo confiar? Será que os critérios de uns são mais “justos” do que os de outros?

“Hoje as certificadoras usam critérios diferentes e alguns divergem, o que não quer dizer que uma certificadora é melhor que a outra. A questão é que isso gera um debate sobre a credibilidade e acaba confundindo o consumidor final. A regulamentação é um avanço, tanto para o consumidor como para o mercado em si, pois também estimula mais investimentos no setor”, explica Ming Liu, coordenador da Organics Brasil, um projeto que engloba mais de 70 produtores e visa agregar valor aos produtos orgânicos brasileiros principalmente para o mercado de exportação.

O Decreto nº 6323, publicado em dezembro de 2007, regulamenta a Lei nº 10.831/2003, que trata sobre a produção, armazenamento, rotulagem, transporte, certificação, comercialização e fiscalização dos produtos e cria o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. Em termos práticos isso significa que o Governo vai credenciar, acompanhar e fiscalizar os organismos responsáveis pela avaliação da conformidade orgânica e que está sendo criado um selo único para “carimbar” um produto nacional como orgânico.

O processo de regulamentação está tramitando e a regulamentação começará a valer de fato em janeiro de 2010. No início desse ano o MAPA abriu uma consulta pública para o modelo de selo orgânico que passará a ser usado para todos os produtos certificados como orgânico. Isso significa que o consumidor não terá mais que avaliar diferentes selos, e sim prestar atenção se o produto tem o selo nacional.

“Não há dúvidas de que a legislação só traz benefícios para o setor e que facilitará bastante a vida do consumidor, que precisa sempre estar muito bem informado sobre os critérios que fazem um produto ser considerado orgânico para fazer sua opção de compra”, diz Ming Liu.

Produção local e preço: A partir do ano que vem o consumidor poderá fazer qualquer questionamento de dúvidas sobre produtos orgânicos diretamente aos fiscais do Ministério de Agricultura. Por outro lado, os varejistas (supermercados e lojas especializadas) também serão responsáveis pelos alimentos que vendem e poderão ser multados caso não sigam as regras estabelecidas. Mas por hora, até a nova legislação de fato começar a funcionar, o momento é de o consumidor se informar para entender de forma cada vez mais clara como funciona o processo de produção orgânica e fazer a sua escolha com plena consciência.

“O consumidor deve estar sempre muito atento. Hoje há produtos à venda que colocam a palavra orgânico no rótulo, ou as palavras "feito com ingredientes orgânicos”, como uma maneira de atrair consumidores. Para que um alimento seja realmente orgânico pelo menos 95% dos ingredientes devem ser orgânicos”, esclarece Sylvia Wachsner coordenadora OrganicsNet, um projeto da Sociedade Nacional de Agricultura que apóia pequenos e médios produtores orgânicos na profissionalização de seus negócios.

No caso de legumes, verduras e alimentos frescos, o processo de produção orgânica é certificado de acordo com os critérios estabelecidos pelo organismo certificador. Para os produtos industrializados, o processo é certificado e há a exigência de que os ingredientes usados sejam orgânicos certificados. Existem até casos de empresas que produzem de forma convencional e orgânica, em lotes e espaços devidamente separados.

Quando o assunto é certificação de carne orgânica, há ainda algumas controvérsias sobre a real sustentabilidade da produção (ver boxe). No caso de cosméticos também há uma discussão conceitual sobre o uso ou não de ingredientes sintéticos. Porém, critérios e discussões à parte, é preciso que o consumidor exercite seu poder de discernimento para fazer a escolha pelo produto que mescle responsabilidade ambiental e social e benefícios para a sua saúde. Neste cenário entra o conceito de produção local, considerado por alguns especialistas como a evolução do conceito de alimentos orgânicos.

Mais do que a eliminação de impacto ambiental negativo, o que faz uma produção ser considerada orgânica é o fato de praticar o equilíbrio entre o ambiental, o social e o econômico. Ou seja, não basta eliminar o uso de agrotóxicos, é preciso pensar em toda a cadeia produtiva, passando pelas condições de trabalho dos profissionais envolvidos, a geração de renda para comunidades tradicionais e o impacto do armazenamento e transporte dos produtos. A resposta para associar todas essas características em um único produto muitas vezes passa pela produção local.

É uma questão de escolha: mais vale comprar um quilo de frutas orgânicas certificadas produzidas há vários quilômetros de distância da sua casa ou comprar um quilo de frutas produzidas, de forma mais artesanal, por uma cooperativa ou comunidade local de sua região, que pode ainda não ter condições de custear o processo de certificação? A decisão final cabe ao consumidor a partir de sua análise do que considera mais orgânico no sentido conceitual da palavra. Devido a grandes redes de lojas de produtos orgânicos, como a Whole Foods, nos Estados Unidos esta discussão está mais avançada no sentido de questionar se é possível aliar produção orgânica com produção em larga escala.

Outra variável que está sempre presente na opção pela compra de um produto orgânico é o preço, que invariavelmente ainda é bem maior, no Brasil, do que os dos produtos convencionais. “Os alimentos orgânicos são mais caros por diversos fatores: são produzidos por centenas de pequenos agricultores familiares em pequenas áreas, ou seja, não temos escala de produção. O custo da logística de levar pequenos volumes de produtos orgânicos é também muito elevado. A certificação ainda é muito onerosa. O prazo de conversão da agricultura convencional para orgânica é de uns dois ou três anos, tempo no qual a produtividade cai, causando prejuízo aos produtores”, explica Sylvia, da OrganicsNet.

Numa explicação mais simplista, o preço mais alto pode ser explicado pela velha lei da oferta e demanda. Na Europa e Estados Unidos, onde a produção e consumo de orgânicos se mostram mais avançados, o custo dos produtos certificados não fica acima de 30%, em média. E nos últimos meses, mesmo com a crise econômica, se assistiu a uma diminuição da produção, mas não do consumo.

O Brasil é o terceiro país com maior área certificada para produção de orgânicos no mundo, ficando atrás somente da Austrália e Argentina. Só que a maior parte do que é produzido nacionalmente seguindo critérios de produção orgânica é direcionada ao mercado internacional. A falta de regulamentação para o setor era, até então, um problema, até para medir estatísticas e avaliar a evolução do mercado interno. Mas é fato que a agricultura orgânica cresce no Brasil, numa faixa estimada de 20 a 30% ao ano. Supermercados continuam incrementando seus produtos e o espaço em prateleiras, investindo em orgânicos, o que indica que existe um negócio em expansão.

“Sempre terá uma diferença de preço entre um produto convencional e um orgânico, mas há condições desta diferença ficar cada vez menor, e aí o produto orgânico vira uma commodity. Para tal precisamos não só ter legislação adequada, mas também de educação dos consumidores, que devem primeiramente receber informações para ter condições de fazer a opção pelo orgânico e progressivamente aumentar a porcentagem de consumo”, conclui Ming Liu.

Dicas para o consumidor de produtos orgânicos

1 – Informe-se: procure sempre informações sobre o que são os alimentos orgânicos e se informe sobre o local de sua origem e modo de produção, suas vantagens para a saúde e para o meio ambiente, os critérios de certificação, o porquê os preços serem superiores etc. O ato de consumir produtos orgânicos é, antes de tudo, um ato de consumo consciente, que só é possível com informação, esclarecimento e conscientização.

2 – Segurança alimentar: não confunda orgânicos com segurança alimentar. Não é porque um alimento é orgânico que não deve ser higienizado e manuseado da forma como é aconselhada para preservar a saúde do consumidor. Ou seja, é preciso lavar frutas, legumes e verduras orgânicas da mesma forma como as convencionais.

3 – Analise a cadeia produtiva: além dos critérios de certificação orgânica, procure analisar a cadeia produtiva do alimento como um todo, baseado nas informações que tiver sobre a origem e processo para obtenção do produto. Considere as vantagens relacionadas à produção local em sua região para analisar os ativos e passivos socioambientais e fazer a escolha do melhor produto para consumo.

A controversa carne orgânica

Para um público de vegetarianos, falar sobre controvérsias no que é chamado de processo de produção de carne orgânica é algo óbvio. A proposta de “bois felizes” é controversa e gera muita discussão, mas é fato de que o filão “pecuária orgânica” está em expansão no Brasil, refletindo o próprio crescimento da pecuária industrial para exportação. Por mais que existam regras de manejo e origem do animal, alimentação, medidas sanitárias, medicamentos e métodos de transporte e abate, questões relacionadas tanto ao bem-estar dos animais como o direito de usá-los para alimentação não ficam fora da discussão.

E os próprios especialistas da área de orgânicos ressaltam que a criação de animais para alimentação de forma orgânica ainda carrega algumas contradições no que diz respeito aos impactos ambientais e sociais propriamente ditos. “Um peixe hoje para ser considerado orgânico só pode ser de criação em tanque, tratado com ração orgânica. Mas isso é muito discutível, porque os impactos ambientais de fazendas marinhas são muito grandes. Sem contar o impacto para pescadores mais tradicionais”, exemplifica Ming Liu, coordenador da Organics Brasil.

Benefícios dos alimentos orgânicos

Atualmente todos sabem que um alimento orgânico é muito mais que um produto sem agrotóxicos. Na verdade, ele é resultado de um sistema de produção agrícola que busca o equilíbrio entre todos os recursos naturais envolvidos na agricultura (solo, água, plantas, animais, insetos etc.) e os seres humanos. Esta prática da agricultura aplicada em harmonia com a natureza é chamada de agroecologia.

E além dos benefícios para o meio ambiente e para as pessoas envolvidas num processo agroecológico, já está mais do que comprovado que o alimento orgânico tem vantagens significantes para a saúde do consumidor. Não só pelo fato de ter quantidades ínfimas de patógenos e resíduos químicos, mas também por ter maior valor nutricional em comparação com o alimento de origem agrícola convencional. Ou seja, a teoria de que adubos químicos garantem maior valor nutricional simplesmente cai por terra.

A riqueza nutricional dos alimentos orgânicos foi devidamente oficializada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) depois da divulgação de uma pesquisa no Journal of Applied Nutrition (Jornal da Nutrição Aplicada), em 1993. A pesquisa foi realizada em Chicago, nos Estados Unidos, e analisou amostras de maça, batata, pêra, trigo e milho, orgânicos e convencionais. E a conclusão foi surpreendente no que diz respeito à diferença acentuada no conteúdo de alguns minerais essenciais – e na quantidade de mercúrio, substância extremante prejudicial à saúde. Veja abaixo os principais resultados:

MINERAL % superior do alimento orgânico
Cálcio 65
Ferro 73
Magnésio 118
Molibdênio 178
Fósforo 91
Potássio 125
Zinco 60
Mercúrio MENOS 29 %

*Publicado na edição de junho 2009 da Revista dos Vegetarianos

Projeto Mucky: protegendo nossos menores primatas


Acima: saguis em reabilitação nos recintos (fotos de Jaqueline B. Ramos)

A sagui Gorgonzola em sessão de hidroterapia (divulgação Mucky)

Por Jaqueline B. Ramos*

Provolone e Gorgonzola não andavam e chegaram com hernias e sem pêlo no corpo. Bill teve uma perna amputada por conta de uma fratura exposta e tem problemas emocionais que o levam a se automutilar. Mickaela tem traumas dos quais nunca conseguiu se recuperar e até hoje não consegue se socializar e vive sozinha.

Estas são algumas das histórias de sagüis que hoje são tratados e vivem sob cuidados constantes em cativeiro no Projeto Mucky, único no gênero no Brasil localizado numa área de 20 mil m2 em Itu, no interior de São Paulo.

Prestes a completar 24 anos, o projeto dá assistência a primatas brasileiros, em especial os calitriquídeos, popularmente conhecidos como sagüis. O Mucky recebe aqueles mais vitimados por ações inconseqüentes do homem e oferece o tratamento adequado para estes animais viverem, com o devido respeito que merecem, em cativeiro (pois a grande maioria não teria mais condições de ser reintroduzida na natureza). E o curioso é que estes tratamentos são exclusivamente alternativos, com direito à prescrição de florais e outros remédios fitoterápicos, sessões de massagem e até hidroterapia.

Além de problemas físicos e psicológicos causados pela captura, transporte e maus-tratos em geral característicos do comércio ilegal, vários animais chegam ao projeto com sérios problemas de deficiência nutricional. Na maior parte das vezes causados por pessoas que os compraram como “pets”, achando que poderiam tratá-los como um cão ou gato doméstico. Ledo engano: sagüis são animais silvestres que pertencem exclusivamente à natureza, ao seu habitat natural, e não devem viver presos em casas ou apartamentos.

“Seqüelas de desnutrição é um problema muito comum. Mas também temos muitos casos de sagüis vítimas mesmo de covardia, como é o caso de Funcho, que foi cegado com cigarro. Há também casos de sagüis que estão paraplégicos e que, felizmente, se adaptaram a um aparelho que criamos que permite que eles se locomovam. Aliás, há casos tão complexos e tristes que quando vemos que eles conseguem se locomover e vocalizar, por exemplo, já comemoramos como uma grande vitória”, explica Lívia Botar, fundadora e coordenadora do Projeto Mucky.

Lívia é formada em Educação Física e tem pós-graduação em Ecologia e Educação Ambiental. Há 24 anos se deparou com um sagüi-de-tufo-preto que estava com uma corda entranhada na cintura. O resgate e o difícil tratamento do sagüi, que foi batizado de Mucky, deu o pontapé inicial para a criação do projeto. E desde então Lívia e sua equipe não pararam mais de ajudar nossos pequenos macaquinhos.

Para ajudar os sagüis, adote uma pessoa: Como várias outras ONGs ambientais, o Mucky, a duras penas, recebe os animais resgatados de condições de maus-tratos e conta apenas com apoio de padrinhos e algumas empresas parceiras (Descarpak, Odontovet, Farmácia Buenos Aires e Núcleo de Diagnóstico Veterinário). O tratamento e acompanhamento dos 187 animais são feitos por uma equipe de 12 tratadores, contando com Lívia, quando o ideal era uma equipe de, no mínimo, 15 pessoas.

Segundo Lívia, a maior dificuldade para manter o trabalho e cuidar de mais animais são os gastos com os funcionários e a necessidade de mais contratações. Por isso, uma das principais campanhas do projeto atualmente é a de apadrinhamento de funcionários, que pode ser feito tanto por um grupo de pessoas físicas como por uma empresa.

“Os nossos tratadores são pessoas muito especiais e isso é fundamental para a recuperação e bem-estar dos sagüis. A maior parte está com a gente há muitos anos e tem um grande conhecimento pela vivência, no dia-a-dia, com os animais. É um trabalho muito delicado, individualizado, como se fosse cuidar de uma criança”, diz Lívia, ressaltando que o manejo dos sagüis é complexo porque eles se estressam facilmente e que está longe de ser um trabalho mecânico.

Ter um grupo de tratadores especiais e dedicados é um diferencial do Mucky, mas isso não prescinde da necessidade urgente de mais apoio financeiro e resulta em muito sacrifício por parte dos colaboradores. Que o diga Vanessa da Silva Souza, tratadora no projeto há oito anos.

“É um trabalho que exige muita paciência e envolvimento, porque na verdade você está lutando por uma causa. Temos que observar individualmente cada um dos sagüis para identificar mudanças no comportamento ou algum sintoma físico de doença. Cada um tem a sua história e precisamos ficar atentos ao seu bem-estar mental, para também melhorar o físico”, diz Vanessa, que trocou alunos na escola primária pelos sagüis.

Vanessa ainda ressalta que como a equipe é pequena, é necessário se desdobrar. Mas o resultado final é prazeroso, porque “você trabalha em prol de alguma coisa”. “Aprendo muito com toda a equipe, que é muito envolvida. Pela minha experiência de professora, também monitoro alguns grupos de alunos em visitas de educação ambiental. O mais importante é mostrar que, na verdade, estes animais deveriam estar na natureza”, conclui a tratadora, que afirma que a grande lição é que as pessoas não devem comprar animais silvestres.

Educação ambiental: Apesar das dificuldades, o esforço para salvar o sagüi Mucky ganhou cada vez mais força ao longo dos 24 anos e hoje o projeto tem como missão o compromisso com a vida. Além do trabalho de tratamento e recuperação dos sagüis, o Mucky também é referência por seu trabalho de educação ambiental e de combate ao tráfico de animais silvestres, sem contar que as instalações do projeto seguem todo um conceito ambiental, com horta orgânica, compostagem de lixo e plantio de mudas nativas.

"Nossa perspectiva aqui no projeto é ambiental. Fazemos muitos trabalhos de educação ambiental demonstrando, através das histórias dos animais que tratamos, a importância do equilíbrio dos ecossistemas e da interação do homem com a natureza de uma forma harmônica. E esta é a filosofia de todos que trabalham conosco. Aliás, é isso que faz dar tudo certo", diz Lívia.

Como ajudar

Pessoas físicas e jurídicas (empresas) podem ajudar fazendo apadrinhamento de funcionários, apadrinhamento de sagüis, doações e comprando produtos da loja virtual. O projeto não é aberto à visitação para o público em geral. Visitas monitoradas podem ser agendadas com antecedência por escolas e pelas pessoas/empresas madrinhas dos funcionários e/ou dos animais. Também é possível fazer trabalho voluntário, estágio e pesquisas de campo. Os contatos do projeto para obtenção de maiores informações são:

Site: http://www.projetomucky.com.br/
E-mail: projetomucky@projetomucky.com.br
Telefone: (11) 4023-0143

Espécies do Projeto Mucky

Os sagüis são os menores primatas do mundo e são brasileiros, endêmicos dos biomas do país. Infelizmente são vítimas constantes de tráfico e tentativas de domesticação, todas, sem exceção, completamente inadequadas.

Além de sagüis, o Projeto Mucky também abriga um casal de micos-de-cheiro (Saimiri vanzolinii) e um casal de bugios-ruivos (Alouatta guariba), que já tem um filhote de pouco mais de um ano. Estas duas espécies e mais o sagüi-branco-da-amazônia são as únicas em que a reprodução é permitida (e até esperada), pois são espécies ameaçadas de extinção. Já com os sagüis, todos os machos são vasectomizados para evitar a reprodução e facilitar o controle em cativeiro. Atualmente o projeto abriga 187 animais em 84 recintos. Veja abaixo as espécies abrigadas pelo Mucky:

Calitriquídeos (sagüis)

Sagüi-do-tufo-preto
Sagüi-do-tufo-branco
Sagüi-leãozinho
Sagüi kuhlíi
Sagüi-da-cara-branca
Sagüi-da-serra
Sagüi-branco-da-amazônia

Cebídeo

Mico-de-cheiro

Atelidae

Bugio ruivo
*Publicado no edição n. 84 (março-abril 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung. Veja aqui.

Curtas Ambientais

Por Jaqueline B. Ramos*

Amazônia brasileira desprotegida

Apesar de ser o detentor da maior parte da Floresta Amazônica, recentemente foi demonstrado que somos um dos países que têm proporcionalmente menos territórios indígenas e áreas protegidas da floresta. São 39,6% da Amazônia brasileira sob proteção na forma de terras indígenas e unidades de conservação contra 79,7% no Equador, 71,5% na Venezuela e 56% na Colômbia. Só ganhamos do Peru, que protege apenas 34,9% da floresta.

Os dados foram revelados em março por um mapa produzido pela Rede Amazônica da Informação Socioambiental Georreferenciada – Raisg, o primeiro a fazer um levantamento detalhado das áreas protegidas em geral nos nove países amazônicos. O antropólogo Beto Silva, do ISA (Instituto Socioambiental), que coordenou a montagem do mapa, afirma que, em números absolutos, não há como fazer comparações, pois dos 3,4 milhões de km2 de áreas protegidas da Amazônia, 1,9 estão no Brasil. Mas ressalta que o trabalho revelou que alguns países da região mantêm a sua porção amazônica razoavelmente protegida.

Na Colômbia, por exemplo, toda a Amazônia (43,3% da área do país) é considerada reserva florestal. No Equador, as terras indígenas amazônicas reconhecidas pelo governo correspondem a 30% da área do país. “No Equador, o processo de reconhecimento oficial de territórios indígenas na Amazônia é menos burocrático que no Brasil”, diz Silva.

Recorde de desperdício de água

Outro número delicado colocou o Brasil na berlinda ambiental nos últimos meses. A consultoria ambiental H2C anunciou em março que o país detém o recorde de desperdício de água por habitante no mundo. E este recorde foi detectado no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, onde o gasto médio diário por pessoa é de mil litros. Em termos comparativos, o resultado é alarmante, pois em países africanos como a Namíbia, por exemplo, as pessoas têm menos de um litro de água por dia.

Juntamente com o recorde de desperdício, também foi divulgado que o consumo diário médio de água por pessoa nos grandes centros urbanos brasileiros oscila entre 250 a 400 litros do recurso natural. Este volume é mais que o dobro do considerado ideal pela Organização das Nações Unidas (ONU), fixado em 110 litros/dia. De acordo com a H2C, somente cinco países no mundo apresentam um nível de consumo de água per capita previsto pela ONU: Alemanha, Bélgica, República Tcheca, Hungria e Portugal.

A conclusão é que, apesar do Brasil ser privilegiado em termos de recursos hídricos, é necessário que os brasileiros adotem uma nova postura diante do consumo de água. “O que tínhamos de água disponível em 1950 é o mesmo que temos hoje, mas temos alguns bilhões a mais de seres humanos. Então, se não pensarmos em controlar a demanda, estamos completamente errados, porque o trabalho que as concessionárias de água e a população vêm fazendo é de apressar o término dos estoques. A água é a mesma, precisamos é controlar a forma como usá-la”, ressalta Paulo Costa, especialista em programas de racionalização do uso de água da H2C.

Escolas economizam 21 milhões de litros de água

Mas há também espaço para notícias boas, até mesmo na tão necessária economia de água. No dia Mundial da Água – 22 de março -, a Sabesp anunciou os bons resultados do Programa de Uso Racional da Água (Pura), implementado em 500 escolas municipais de São Paulo desde junho de 2008. A companhia constatou a economia de 26% no consumo de água entre janeiro de 2008 e janeiro de 2009, o que corresponde a aproximadamente 21 milhões de litros de água.

Com base em estudos e diagnósticos, a Sabesp verifica a quantidade necessária de água para a escola e oferece alternativas para a redução do consumo. Antes de o Pura ser implementado, o consumo das 421 escolas que já foram analisadas era estimado em 88 milhões de litros em janeiro de 2008. Em janeiro de 2009, o consumo caiu para 67 milhões de litros, o que corresponde ao abastecimento para cerca de 1.500 famílias. Outras 750 instituições de ensino municipais estão aderindo ao Pura no primeiro semestre desse ano.

Pecuária vilã, o retorno

Mais um estudo apresentado recentemente alerta para a problemática da emissão significativa de gases de efeito estufa por parte da pecuária. Pesquisa divulgada em março pelo Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED, na sigla em inglês) demonstra que a pecuária e o desmatamento emitem mais gases estufa do que as cidades.

Segundo o IIED, apesar da emissão de gases por carros e indústrias, as cidades lançam bem menos gases de efeito estufa na atmosfera do que a pecuária ou o desmatamento, por exemplo. O estudo analisou a emissão de CO2 em diversas cidades do mundo, entre elas São Paulo e Rio de Janeiro, comparando com as médias nacionais. Nas cidades brasileiras, as emissões por pessoa são menores do que a média do país, o que poderia ser explicado pelo fato das emissões brasileiras serem muito elevadas devido à atividade agropecuária na Amazônia.

Segundo David Dodman, autor do relatório, as cidades não são as principais culpadas pelo aquecimento global. “Os verdadeiros culpados da mudança climática não são as cidades propriamente ditas, mas os estilos de vida com consumo elevado das pessoas que vivem nas metrópoles”.

Animais planejam o futuro

Na última reunião anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência, realizada em fevereiro, cientistas afirmaram, entre outras coisas, que alguns animais são capazes de planejar o futuro e que isso não seria um privilégio dos seres humanos. Este foi um dos resultados dos estudos mais recentes sobre a capacidade mental dos animais apresentados por alguns pesquisadores.

Outras questões colocadas foram o fato de macacos fazerem conta de cabeça e de que pombos são capazes de entender quando uma imagem não faz parte de um conjunto. "Eu diria que nós humanos deveríamos manter nossos egos sob controle", disse Edward A. Wasserman, um pesquisador de psicologia experimental da Universidade de Iowa.

”Nos últimos 20 anos, houve uma grande revolução na compreensão dos animais”, acrescentou Nicola S. Clayton, professora de cognição comparativa da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. "Planejar para o futuro já foi visto como algo único dos humanos", disse ela. "Agora sabemos que não é verdade", disse Clayton, ressaltando que corvos já foram vistos guardando comida para o dia seguinte e, até mesmo, descobrindo meios de impedir que a reserva fosse roubada.

Em defesa das energias renováveis

Uma iniciativa do governo da Alemanha, Dinamarca e Espanha criou em fevereiro a Agência Internacional de Energias Renováveis (International Renewable Energy Agency – Irena). A agência é resultado de anos de debates e tem como um dos seus principais objetivos fazer um contraponto aos lobbies dos combustíveis fósseis junto aos governos mundiais.

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério de Relações Exteriores, o Brasil não aderiu à agência porque os biocombustíveis e a energia hidroelétrica não seriam prestigiados pela agência, que terá um foco maior nas energias eólica e solar. Porém o país seguirá como observador e poderá entrar na agência a qualquer momento. Um dos objetivos da nova entidade é acelerar o processo de transição entre os combustíveis fósseis e as novas formas de energias. Para isso, ajudará governos a traçarem novas políticas e legislações assim como realizará consultorias e acompanhamento de empreendimentos no setor.

Carro ecológico para todos

A montadora norte-americana Tesla Motors lançou em março um novo modelo de carro elétrico de cinco lugares de grande autonomia, que será o primeiro do mundo a ser produzido em escala industrial. O sedã “Model S” fará sua estréia nas linhas de produção em 2011 e chegará às lojas por um preço final de US$ 49.900. O protótipo, 100% não poluente, funciona com uma bateria de íons de lítio. Com uma carga completa, o carro é capaz de rodar até 360 quilômetros.

O preço final do carro ainda é salgado, comparado a outros sedãs da mesma categoria, mas a Tesla destaca que, com os incentivos ficais concedidos pelo governo a quem adquirir veículos não poluentes e o baixo custo da manutenção e do combustível, o "Model S" passa a ser bastante competitivo. A princípio, o novo carro será vendido apenas n Europa e América do Norte, seguindo depois para o mercado asiático.

Guerra X Riqueza Biológica

A maioria das guerras acontece em áreas de grande riqueza biológica. Esta foi uma das principais conclusões de um recente estudo publicado na revista científica Conservation Biology, que concluiu que mais de 80% dos principais conflitos armados do mundo entre 1950 e 2000 aconteceram nas regiões mais ricas em diversidade biológica e mais ameaçadas do planeta e, conseqüentemente, consideradas prioritárias para conservação.

Intitulado “Guerra nos Hotspots de Biodiversidade”, o estudo traz uma comparação das principais zonas de conflito com os 34 hotspots de biodiversidade identificados pela ONG Conservação Internacional (CI). “Essa conclusão surpreendente – de que os principais redutos de vida na Terra também são as regiões de maior conflito humano – nos diz que essas áreas são essenciais tanto para a conservação da biodiversidade quanto para o bem-estar humano”, afirma o presidente da Conservação Internacional e um dos autores do estudo, Russell A. Mittermeier.

Alguns exemplos da conexão entre natureza e conflito incluem a Guerra do Vietnã, quando o venenoso Agente Laranja destruiu a cobertura florestal e os mangues costeiros, e a extração de madeira que ajudou a financiar guerras na Libéria, Camboja e República Democrática do Congo. Nesses e em outros inúmeros casos, o efeito colateral da guerra teve impacto negativo na riqueza biológica e na capacidade das pessoas de viverem dela.

Bugios vítimas da ignorância

O recente surto de febre amarela que assustou, principalmente, a população no sul do Brasil fez várias vítimas da ignorância das pessoas. Bugios e outros primatas são, erroneamente, considerados suspeitos de serem transmissores da febre-amarela e de serem responsáveis pelo aumento da circulação da doença. O resultado são humanos usando pedras e outras armas para eliminar bugios e a matança desnecessária chegou a patamares inaceitáveis.

Júlio César Bicca-Marques, professor titular e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Primatologia, da Faculdade de Biocências da PUC/RS, divulgou recentemente uma nota advertindo contra a matança de bugios – que, aliás, estão ameaçados de extinção – no Rio Grande do Sul.

Numa parte da nota ele diz: “A febre amarela silvestre já provocou a morte de algumas pessoas e de muitos bugios em uma extensa área do Rio Grande do Sul desde o final de 2008. No entanto, ao contrário da maioria das pessoas, os bugios são extremamente sensíveis à doença, morrendo em poucos dias após contraí-la. (...) Além de tornar mais crítico o estado de conservação desses animais, a matança de bugios é extremamente prejudicial para o próprio homem. A morte de bugios por febre amarela alerta os órgãos de saúde locais sobre a circulação do vírus na região, os quais promovem campanhas de vacinação da população humana.”

Abate humanitário

STEPS. Este é o nome do Programa Nacional de Abate Humanitário lançado no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) no início de abril. Como o próprio nome sugere, STEPS (passos, em inglês) representam etapas que a WSPA - Sociedade Mundial de Proteção Animal (World Society for the Protection of Animals) pretende construir com o MAPA e associações das agroindústrias brasileiras na implementação de melhorias no manejo pré-abate e abate dos animais.

O programa teve início em 2008, com assinatura de Termo de Cooperação entre WSPA e MAPA, e as associações União Brasileira de Avicultura - UBA, Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango - ABEF e Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína - ABIPECS, para a elaboração de todo o material áudio-visual que será utilizado nos treinamentos.

A iniciativa visa à capacitação de dois mil fiscais agropecuários e profissionais que atuam em frigoríficos federais, estaduais e municipais para a promoção do bem-estar animal na rotina de trabalho das cadeias produtivas de bovinos, suínos e aves. O Diretor da WSPA Brasil, Antônio Augusto Silva, destacou no evento de lançamento do programa que "o bem-estar animal é uma tendência irreversível, uma demanda ética e uma oportunidade de negócios".

*Publicado no edição n. 84 (março-abril 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung. Veja aqui.

sexta-feira, abril 17, 2009

segunda-feira, abril 06, 2009

segunda-feira, março 23, 2009

foto: site Inovação Tecnológica


Descentralização das fontes de produção de energia

Por Jaqueline B. Ramos*

Não é de hoje que se discutem as problemáticas ambientais decorrentes de um modelo de matriz energética centrado na queima de combustíveis fósseis. Além de não serem fontes renováveis, o petróleo e seus derivados são considerados vilões quando o assunto é emissão de gases poluentes, o que causa, entre outros problemas, o aquecimento global.

A solução para novos modelos de matriz energética passa, antes de tudo, pela descentralização. Investir no desenvolvimento de novas tecnologias para o uso do que hoje é chamado de energia alternativa – energia eólica, solar, dos mares, biodiesel etc – e diversificar as fontes de energia exploradas, reconhecendo que cada uma tem um potencial significativo que pode (e deve) ser aproveitado. No caso do Brasil, por exemplo, estima-se que se fossem instalados painéis solares em um quarto da área do reservatório da Usina de Itaipu, a produção de energia gerada seria a mesma da usina como um todo.

De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), se o planeta não reduzir as emissões em pelo menos dois terços, a temperatura da Terra subirá mais de dois graus num curto prazo. Somando isso ao aumento de 0,8 grau já assistido e às previsões sobre o aumento de 45% no consumo de energia no mundo até 2030, as expectativas em relação a impactos ambientais seguidos por crises econômicas não são das melhores.

Assim, a pergunta que não quer calar é: qual é a dificuldade para a diversificação e descentralização das fontes de energia e um uso mais freqüente de energias renováveis? Segundo o ambientalista e jornalista Washington Novaes, o confronto das energias renováveis com a energia derivada de combustíveis fósseis está na questão da contabilização de custos.

“Hoje, de acordo com os cálculos realizados, a energia eólica e solar são mais caras que as energias derivadas dos combustíveis fósseis. Mas isso depende de que cálculo se faz. Por exemplo, dizem que a utilização de combustíveis fósseis é mais barata, mas nesse processo não são contabilizados os custos que essa energia gera para saúde, para o meio ambiente. Ao utilizar essa energia no transporte, também não se contabiliza o custo de implantação de infra-estrutura. Então, tudo depende do que se contabiliza ou não”, explica Novaes em uma entrevista dada no início do ano sobre o assunto para o IHU On line, revista semanal do Instituto Humanitas Unisinos.

Potencialidades de uma matriz energética limpa

O grande gargalo é que pela abordagem das contas atuais, considera-se que as energias renováveis – e mais limpas - têm um custo maior e, conseqüentemente, são mais difíceis de serem adotadas. Numa linha bem otimista, poderia se afirmar que o Brasil, um país muito rico em recursos naturais, comparado com outras nações do mundo, tem uma potencialidade grande para investir em novas fontes de energia e contribuir consideravelmente para a mudança deste paradigma e para a descentralização das fontes de energia.

De uma formal geral, as potencialidades de uma matriz energética limpa no Brasil passam pela energia hidrelétrica, solar, eólica e a oriunda de biomassa. Calcula-se que só a energia eólica já seria capaz de atender todo o consumo brasileiro atualmente. E vários estudos e levantamentos demonstram, cada vez mais claramente, esta potencialidade (veja mais no boxe).

No início de fevereiro, o Greenpeace lançou um documento que propõe a utilização de energias renováveis no país, especialmente nos parques industriais. “A proposta principal é que o governo brasileiro crie um ambiente de incentivo às energias renováveis e limpas, pois o Brasil tem um amplo potencial natural. Precisamos agora que o poder público incentive, por exemplo, a instalação de indústrias para fabricação dos equipamentos que são necessários para a instalação das usinas eólicas”, afirmou Sérgio Leitão, diretor de campanhas do Greenpeace, no lançamento do documento em Fortaleza, Ceará.

Além do incentivo e investimento em energia limpa, também é necessário considerar a possibilidade de redução do consumo energético. Um estudo realizado recentemente pela Unicamp e pela WWF Brasil mostra que o Brasil poderia reduzir, com tranqüilidade, sua necessidade energética em 50%. Cerca de 30% poderiam ser reduzidos com programas de conservação, a exemplo do “apagão” em 2001. Mais 10% poderiam ser ganhos com a repotenciação de usinas já construídas que estão com seu prazo de utilização vencido. A repotenciação dessas usinas tem um custo menor do que construir novas hidrelétricas. Poderíamos ganhar mais 10% com a redução de perda das linhas de transmissão. Nós já perdemos 15% nas linhas de transmissão, enquanto o Japão, por exemplo, perdeu apenas 1%.

A combinação de um uso mais inteligente e sustentável das fontes de energia já existentes e do investimento em fontes mais limpas vai ao encontro de uma idéia defendida pelo especialista em política energética norte-americano Jeremy Rifkin. Ele acredita que a atual crise financeira, a crise energética e o aquecimento global estão interligados e não serão solucionados separadamente. “Para sair do pântano financeiro e climático, é preciso acelerar a revolução verde (...) Se não acabarmos agora com o vício do petróleo, os danos serão muito piores", afirmou Rifkin em recente entrevista à revista Veja.

Segundo Rifkin, o melhor exemplo de como a energia verde funciona está na Alemanha. Em oito anos, o país reduziu drasticamente sua dependência do petróleo e metade da energia solar existente no mundo hoje é produzida lá. E o Governo acabou de anunciar incentivos à produção de carros elétricos que devem resultar na produção de um milhão de veículos desse tipo no país até 2020.

Portanto, não é difícil compreender a urgência da reformulação da matriz energética desenhada pela humanidade na idade moderna. E esta não prescinde da descentralização das fontes de produção de energia. Nesta direção espera-se que também caminhemos para um modelo de produção mais próximo do local de consumo, poupando o uso de energia e prevenindo uma série de impactos sociais e ambientais negativos. Afinal de contas, em breve seremos 9 bilhões de habitantes no planeta e a demanda crescente por energia, bens e consumo precisa, urgentemente, ser repensada.

A ENERGIA DOS VENTOS

A energia proveniente dos ventos é amplamente disponível, possui baixo impacto ambiental e é limpa, pois não emite gás carbônico. As instalações mundiais de energia eólica geram hoje mais de 120,8 GW, sendo que apenas em 2008 houve um crescimento de 28,8% em relação a 2007. Esses 120,8 GW serão responsáveis pela não emissão anual de 158 milhões de toneladas CO2.

Os Estados Unidos elevaram sua capacidade em 50% em 2008 e superaram a Alemanha como o maior produtor de energia eólica. Já a China duplicou sua capacidade instalada e está no caminho para superar Alemanha e Espanha e ocupar, em 2010, o segundo lugar em termos de capacidade de produção eólica.

No Brasil, a região Nordeste é a mais promissora: o potencial de energia eólica está estimado em 6 mil MW. E cientistas declaram que o potencial eólico brasileiro é subutilizado. De acordo com um estudo publicado no início do ano na Revista Brasileira de Ensino de Física, se todo o potencial de energia dos ventos no país fosse aproveitado, seria possível gerar cerca de 272 terawatts/hora (TWh) por ano de energia elétrica. Isso representa, aproximadamente, mais da metade do total do consumo brasileiro.

CALOR E LUZ PROVENIENTES DO SOL

O aproveitamento do sol como fonte de calor e luz talvez seja uma das alternativas energéticas mais promissoras e também a que já é mais utilizada nos dias de hoje. O sol irradia por ano o equivalente a 10 mil vezes a energia consumida pela população mundial neste mesmo período. Em outras palavras, a energia solar é abundante e permanente, renovável a cada dia, não polui e nem ameaça o equilíbrio de ecossistemas.

Num país como o Brasil, que tem bons índices de insolação em qualquer parte de seu território, estudos já concluíram que uma parte do milionésimo de energia solar que nosso país recebe durante um ano poderia prover suprimento de energia equivalente a 54% do petróleo nacional, duas vezes a energia obtida com o carvão mineral e quatro vezes a energia gerada no mesmo período por uma usina hidrelétrica.

A energia solar pode representar a solução ideal para áreas afastadas para obtenção de eletricidade, o que é feito através de painéis de células fotovoltaicas. Estas permitem a conversão direta da luz em eletricidade. Atualmente o custo das células solares é um grande desafio para a indústria e o principal empecilho para a difusão dos sistemas fotovoltaicos em larga escala.

ETANOL E DIESEL LIMPO

Em janeiro deste ano, o Governo brasileiro anunciou que os níveis de produção, consumo e exportação de etanol (álcool) e de consumo e produção de biodiesel (diesel proveniente de gordura animal ou óleos vegetais) nunca foram tão altos como os registrados em 2008.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil exportou 5,16 bilhões de litros de etanol, de um total de 24,5 bilhões de litros produzidos no ano passado. Se comparado à gasolina, o volume de etanol vendido para o mercado externo representou mais do que o dobro das exportações no período. E no mercado interno o consumo de etanol também foi recorde, superando pela primeira vez o de gasolina. Este crescimento tem relação direta com o aumento da frota flex-fuel, correspondente a 87,2% dos veículos licenciados no ano passado.

No mesmo ritmo, a produção de biodiesel também foi recorde ao atingir mais de 1,1 bilhão de litros. Esse total representa um crescimento de quase 190% em relação ao ano anterior. Em novembro, a capacidade instalada de produção alcançou 2,993 bilhões de litros por ano e o número de usinas em funcionamento no país chegou a 46.

A adoção da mistura obrigatória de 2% de biodiesel no diesel, em vigor desde janeiro de 2008, e ampliada para 3% em julho, permitiu a redução da importação de 1,1 bilhão de litros de diesel derivado de petróleo no ano passado. O volume representa um ganho de aproximadamente US$ 976 milhões na balança comercial. Além de reduzir a dependência brasileira de diesel importado, a produção e uso de biodiesel propiciam o desenvolvimento de economias locais e regionais, seja na etapa agrícola ou na indústria de bens e serviços.

O POTENCIAL DOS MARES

O Brasil tem sete mil quilômetros de costa marítima, mas ainda investe timidamente no potencial energético dos mares. Existem dois tipos de energia relevantes e em grande escala que podem ser aproveitadas no mar. A das marés, que acontece duas vezes ao dia, mais ou menos a cada 12 horas, e a das ondas, que quando quebram na beira da praia dissipam toda a energia transportada do alto mar.

Em relação às ondas, estima-se que esta fonte energética tenha potencial para a produção de 20 GW entre 2010 e 2020, 40% a mais do que a maior usina hidrelétrica do mundo, a brasileira Itaipu. E segundo anúncio recente feito pelo Programa de Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ, o país tem capacidade para ter tecnologia própria nesta área se apostar na inclusão desta fonte na matriz energética. A primeira usina de energia das ondas do mundo, o Parque de Aguçadoura, foi construída no ano passado em Portugal.

O objetivo é ter, neste ano, 28 balsas capazes de gerar 24 MW, o suficiente para fornecer energia para 250 mil habitantes.O núcleo de pesquisas da COPPE/UFRJ é referência no assunto no Brasil e já trabalha na formação de uma rede com outras universidades, inclusive planejando projetos pilotos para o Ceará e Santa Catarina, estado com maior potencial para a energia das ondas.

Fontes: Ambiente Brasil, Agência Brasil, Agência Envolverde, Revista Biodiesel BR

*Publicado na edição n. 83 (janeiro/fevereiro 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung