domingo, junho 14, 2009

Selos orgânicos: será que você pode confiar neles?



Por Jaqueline B. Ramos*

O biólogo Ricardo Nehrer é vegetariano há 26 anos e sempre que possível procura comprar alimentos orgânicos. Ele acredita que o consumo de orgânicos significa proteção ao próprio corpo, no sentido integral – físico, mental e emocional – por conta dos agrotóxicos e efeitos sinérgicos dos venenos usados na agricultura tradicional. No entanto, Ricardo diz que além do preço e da disponibilidade dos produtos orgânicos no mercado, uma das dificuldades em relação ao consumo de orgânicos é a certificação, que ainda é uma dúvida que paira sobre os consumidores, principalmente para os que estão em fase transição de dieta.

A vontade de consumir orgânicos indo de encontro às dúvidas sobre a confiabilidade na certificação desse tipo de produto, como colocado por Ricardo, é um questionamento comum entre quase todos os vegetarianos. Primeiramente, onde acho alimentos orgânicos para comprar? E quando acho, o que devo verificar para ter certeza e confiar que realmente estou comprando e consumindo um produto livre de uso de agrotóxicos e outros venenos?

Uma boa notícia é que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) está finalmente regulamentando a atividade no país. Desde o dia 29 de dezembro de 2007 a agricultura orgânica no Brasil passou a ter critérios para o funcionamento de todo o seu sistema de produção, desde a propriedade rural até o ponto de venda. Até então não existia, por mais incrível que isso possa parecer, critérios definidos que regulamentassem a atividade no país – que atualmente tem 15 mil produtores numa área estimada de 800 mil hectares.

O que acontecia é a atuação de mais de 20 certificadoras “carimbando” produtos com o atestado de orgânicos. Para o consumidor final, tamanha diversidade de entidades pode gerar dúvidas em relação à confiabilidade no selo – principalmente os das certificadoras que são menos conhecidas - e à procedência do produto. Em que selo devo confiar? Será que os critérios de uns são mais “justos” do que os de outros?

“Hoje as certificadoras usam critérios diferentes e alguns divergem, o que não quer dizer que uma certificadora é melhor que a outra. A questão é que isso gera um debate sobre a credibilidade e acaba confundindo o consumidor final. A regulamentação é um avanço, tanto para o consumidor como para o mercado em si, pois também estimula mais investimentos no setor”, explica Ming Liu, coordenador da Organics Brasil, um projeto que engloba mais de 70 produtores e visa agregar valor aos produtos orgânicos brasileiros principalmente para o mercado de exportação.

O Decreto nº 6323, publicado em dezembro de 2007, regulamenta a Lei nº 10.831/2003, que trata sobre a produção, armazenamento, rotulagem, transporte, certificação, comercialização e fiscalização dos produtos e cria o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. Em termos práticos isso significa que o Governo vai credenciar, acompanhar e fiscalizar os organismos responsáveis pela avaliação da conformidade orgânica e que está sendo criado um selo único para “carimbar” um produto nacional como orgânico.

O processo de regulamentação está tramitando e a regulamentação começará a valer de fato em janeiro de 2010. No início desse ano o MAPA abriu uma consulta pública para o modelo de selo orgânico que passará a ser usado para todos os produtos certificados como orgânico. Isso significa que o consumidor não terá mais que avaliar diferentes selos, e sim prestar atenção se o produto tem o selo nacional.

“Não há dúvidas de que a legislação só traz benefícios para o setor e que facilitará bastante a vida do consumidor, que precisa sempre estar muito bem informado sobre os critérios que fazem um produto ser considerado orgânico para fazer sua opção de compra”, diz Ming Liu.

Produção local e preço: A partir do ano que vem o consumidor poderá fazer qualquer questionamento de dúvidas sobre produtos orgânicos diretamente aos fiscais do Ministério de Agricultura. Por outro lado, os varejistas (supermercados e lojas especializadas) também serão responsáveis pelos alimentos que vendem e poderão ser multados caso não sigam as regras estabelecidas. Mas por hora, até a nova legislação de fato começar a funcionar, o momento é de o consumidor se informar para entender de forma cada vez mais clara como funciona o processo de produção orgânica e fazer a sua escolha com plena consciência.

“O consumidor deve estar sempre muito atento. Hoje há produtos à venda que colocam a palavra orgânico no rótulo, ou as palavras "feito com ingredientes orgânicos”, como uma maneira de atrair consumidores. Para que um alimento seja realmente orgânico pelo menos 95% dos ingredientes devem ser orgânicos”, esclarece Sylvia Wachsner coordenadora OrganicsNet, um projeto da Sociedade Nacional de Agricultura que apóia pequenos e médios produtores orgânicos na profissionalização de seus negócios.

No caso de legumes, verduras e alimentos frescos, o processo de produção orgânica é certificado de acordo com os critérios estabelecidos pelo organismo certificador. Para os produtos industrializados, o processo é certificado e há a exigência de que os ingredientes usados sejam orgânicos certificados. Existem até casos de empresas que produzem de forma convencional e orgânica, em lotes e espaços devidamente separados.

Quando o assunto é certificação de carne orgânica, há ainda algumas controvérsias sobre a real sustentabilidade da produção (ver boxe). No caso de cosméticos também há uma discussão conceitual sobre o uso ou não de ingredientes sintéticos. Porém, critérios e discussões à parte, é preciso que o consumidor exercite seu poder de discernimento para fazer a escolha pelo produto que mescle responsabilidade ambiental e social e benefícios para a sua saúde. Neste cenário entra o conceito de produção local, considerado por alguns especialistas como a evolução do conceito de alimentos orgânicos.

Mais do que a eliminação de impacto ambiental negativo, o que faz uma produção ser considerada orgânica é o fato de praticar o equilíbrio entre o ambiental, o social e o econômico. Ou seja, não basta eliminar o uso de agrotóxicos, é preciso pensar em toda a cadeia produtiva, passando pelas condições de trabalho dos profissionais envolvidos, a geração de renda para comunidades tradicionais e o impacto do armazenamento e transporte dos produtos. A resposta para associar todas essas características em um único produto muitas vezes passa pela produção local.

É uma questão de escolha: mais vale comprar um quilo de frutas orgânicas certificadas produzidas há vários quilômetros de distância da sua casa ou comprar um quilo de frutas produzidas, de forma mais artesanal, por uma cooperativa ou comunidade local de sua região, que pode ainda não ter condições de custear o processo de certificação? A decisão final cabe ao consumidor a partir de sua análise do que considera mais orgânico no sentido conceitual da palavra. Devido a grandes redes de lojas de produtos orgânicos, como a Whole Foods, nos Estados Unidos esta discussão está mais avançada no sentido de questionar se é possível aliar produção orgânica com produção em larga escala.

Outra variável que está sempre presente na opção pela compra de um produto orgânico é o preço, que invariavelmente ainda é bem maior, no Brasil, do que os dos produtos convencionais. “Os alimentos orgânicos são mais caros por diversos fatores: são produzidos por centenas de pequenos agricultores familiares em pequenas áreas, ou seja, não temos escala de produção. O custo da logística de levar pequenos volumes de produtos orgânicos é também muito elevado. A certificação ainda é muito onerosa. O prazo de conversão da agricultura convencional para orgânica é de uns dois ou três anos, tempo no qual a produtividade cai, causando prejuízo aos produtores”, explica Sylvia, da OrganicsNet.

Numa explicação mais simplista, o preço mais alto pode ser explicado pela velha lei da oferta e demanda. Na Europa e Estados Unidos, onde a produção e consumo de orgânicos se mostram mais avançados, o custo dos produtos certificados não fica acima de 30%, em média. E nos últimos meses, mesmo com a crise econômica, se assistiu a uma diminuição da produção, mas não do consumo.

O Brasil é o terceiro país com maior área certificada para produção de orgânicos no mundo, ficando atrás somente da Austrália e Argentina. Só que a maior parte do que é produzido nacionalmente seguindo critérios de produção orgânica é direcionada ao mercado internacional. A falta de regulamentação para o setor era, até então, um problema, até para medir estatísticas e avaliar a evolução do mercado interno. Mas é fato que a agricultura orgânica cresce no Brasil, numa faixa estimada de 20 a 30% ao ano. Supermercados continuam incrementando seus produtos e o espaço em prateleiras, investindo em orgânicos, o que indica que existe um negócio em expansão.

“Sempre terá uma diferença de preço entre um produto convencional e um orgânico, mas há condições desta diferença ficar cada vez menor, e aí o produto orgânico vira uma commodity. Para tal precisamos não só ter legislação adequada, mas também de educação dos consumidores, que devem primeiramente receber informações para ter condições de fazer a opção pelo orgânico e progressivamente aumentar a porcentagem de consumo”, conclui Ming Liu.

Dicas para o consumidor de produtos orgânicos

1 – Informe-se: procure sempre informações sobre o que são os alimentos orgânicos e se informe sobre o local de sua origem e modo de produção, suas vantagens para a saúde e para o meio ambiente, os critérios de certificação, o porquê os preços serem superiores etc. O ato de consumir produtos orgânicos é, antes de tudo, um ato de consumo consciente, que só é possível com informação, esclarecimento e conscientização.

2 – Segurança alimentar: não confunda orgânicos com segurança alimentar. Não é porque um alimento é orgânico que não deve ser higienizado e manuseado da forma como é aconselhada para preservar a saúde do consumidor. Ou seja, é preciso lavar frutas, legumes e verduras orgânicas da mesma forma como as convencionais.

3 – Analise a cadeia produtiva: além dos critérios de certificação orgânica, procure analisar a cadeia produtiva do alimento como um todo, baseado nas informações que tiver sobre a origem e processo para obtenção do produto. Considere as vantagens relacionadas à produção local em sua região para analisar os ativos e passivos socioambientais e fazer a escolha do melhor produto para consumo.

A controversa carne orgânica

Para um público de vegetarianos, falar sobre controvérsias no que é chamado de processo de produção de carne orgânica é algo óbvio. A proposta de “bois felizes” é controversa e gera muita discussão, mas é fato de que o filão “pecuária orgânica” está em expansão no Brasil, refletindo o próprio crescimento da pecuária industrial para exportação. Por mais que existam regras de manejo e origem do animal, alimentação, medidas sanitárias, medicamentos e métodos de transporte e abate, questões relacionadas tanto ao bem-estar dos animais como o direito de usá-los para alimentação não ficam fora da discussão.

E os próprios especialistas da área de orgânicos ressaltam que a criação de animais para alimentação de forma orgânica ainda carrega algumas contradições no que diz respeito aos impactos ambientais e sociais propriamente ditos. “Um peixe hoje para ser considerado orgânico só pode ser de criação em tanque, tratado com ração orgânica. Mas isso é muito discutível, porque os impactos ambientais de fazendas marinhas são muito grandes. Sem contar o impacto para pescadores mais tradicionais”, exemplifica Ming Liu, coordenador da Organics Brasil.

Benefícios dos alimentos orgânicos

Atualmente todos sabem que um alimento orgânico é muito mais que um produto sem agrotóxicos. Na verdade, ele é resultado de um sistema de produção agrícola que busca o equilíbrio entre todos os recursos naturais envolvidos na agricultura (solo, água, plantas, animais, insetos etc.) e os seres humanos. Esta prática da agricultura aplicada em harmonia com a natureza é chamada de agroecologia.

E além dos benefícios para o meio ambiente e para as pessoas envolvidas num processo agroecológico, já está mais do que comprovado que o alimento orgânico tem vantagens significantes para a saúde do consumidor. Não só pelo fato de ter quantidades ínfimas de patógenos e resíduos químicos, mas também por ter maior valor nutricional em comparação com o alimento de origem agrícola convencional. Ou seja, a teoria de que adubos químicos garantem maior valor nutricional simplesmente cai por terra.

A riqueza nutricional dos alimentos orgânicos foi devidamente oficializada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) depois da divulgação de uma pesquisa no Journal of Applied Nutrition (Jornal da Nutrição Aplicada), em 1993. A pesquisa foi realizada em Chicago, nos Estados Unidos, e analisou amostras de maça, batata, pêra, trigo e milho, orgânicos e convencionais. E a conclusão foi surpreendente no que diz respeito à diferença acentuada no conteúdo de alguns minerais essenciais – e na quantidade de mercúrio, substância extremante prejudicial à saúde. Veja abaixo os principais resultados:

MINERAL % superior do alimento orgânico
Cálcio 65
Ferro 73
Magnésio 118
Molibdênio 178
Fósforo 91
Potássio 125
Zinco 60
Mercúrio MENOS 29 %

*Publicado na edição de junho 2009 da Revista dos Vegetarianos

Projeto Mucky: protegendo nossos menores primatas


Acima: saguis em reabilitação nos recintos (fotos de Jaqueline B. Ramos)

A sagui Gorgonzola em sessão de hidroterapia (divulgação Mucky)

Por Jaqueline B. Ramos*

Provolone e Gorgonzola não andavam e chegaram com hernias e sem pêlo no corpo. Bill teve uma perna amputada por conta de uma fratura exposta e tem problemas emocionais que o levam a se automutilar. Mickaela tem traumas dos quais nunca conseguiu se recuperar e até hoje não consegue se socializar e vive sozinha.

Estas são algumas das histórias de sagüis que hoje são tratados e vivem sob cuidados constantes em cativeiro no Projeto Mucky, único no gênero no Brasil localizado numa área de 20 mil m2 em Itu, no interior de São Paulo.

Prestes a completar 24 anos, o projeto dá assistência a primatas brasileiros, em especial os calitriquídeos, popularmente conhecidos como sagüis. O Mucky recebe aqueles mais vitimados por ações inconseqüentes do homem e oferece o tratamento adequado para estes animais viverem, com o devido respeito que merecem, em cativeiro (pois a grande maioria não teria mais condições de ser reintroduzida na natureza). E o curioso é que estes tratamentos são exclusivamente alternativos, com direito à prescrição de florais e outros remédios fitoterápicos, sessões de massagem e até hidroterapia.

Além de problemas físicos e psicológicos causados pela captura, transporte e maus-tratos em geral característicos do comércio ilegal, vários animais chegam ao projeto com sérios problemas de deficiência nutricional. Na maior parte das vezes causados por pessoas que os compraram como “pets”, achando que poderiam tratá-los como um cão ou gato doméstico. Ledo engano: sagüis são animais silvestres que pertencem exclusivamente à natureza, ao seu habitat natural, e não devem viver presos em casas ou apartamentos.

“Seqüelas de desnutrição é um problema muito comum. Mas também temos muitos casos de sagüis vítimas mesmo de covardia, como é o caso de Funcho, que foi cegado com cigarro. Há também casos de sagüis que estão paraplégicos e que, felizmente, se adaptaram a um aparelho que criamos que permite que eles se locomovam. Aliás, há casos tão complexos e tristes que quando vemos que eles conseguem se locomover e vocalizar, por exemplo, já comemoramos como uma grande vitória”, explica Lívia Botar, fundadora e coordenadora do Projeto Mucky.

Lívia é formada em Educação Física e tem pós-graduação em Ecologia e Educação Ambiental. Há 24 anos se deparou com um sagüi-de-tufo-preto que estava com uma corda entranhada na cintura. O resgate e o difícil tratamento do sagüi, que foi batizado de Mucky, deu o pontapé inicial para a criação do projeto. E desde então Lívia e sua equipe não pararam mais de ajudar nossos pequenos macaquinhos.

Para ajudar os sagüis, adote uma pessoa: Como várias outras ONGs ambientais, o Mucky, a duras penas, recebe os animais resgatados de condições de maus-tratos e conta apenas com apoio de padrinhos e algumas empresas parceiras (Descarpak, Odontovet, Farmácia Buenos Aires e Núcleo de Diagnóstico Veterinário). O tratamento e acompanhamento dos 187 animais são feitos por uma equipe de 12 tratadores, contando com Lívia, quando o ideal era uma equipe de, no mínimo, 15 pessoas.

Segundo Lívia, a maior dificuldade para manter o trabalho e cuidar de mais animais são os gastos com os funcionários e a necessidade de mais contratações. Por isso, uma das principais campanhas do projeto atualmente é a de apadrinhamento de funcionários, que pode ser feito tanto por um grupo de pessoas físicas como por uma empresa.

“Os nossos tratadores são pessoas muito especiais e isso é fundamental para a recuperação e bem-estar dos sagüis. A maior parte está com a gente há muitos anos e tem um grande conhecimento pela vivência, no dia-a-dia, com os animais. É um trabalho muito delicado, individualizado, como se fosse cuidar de uma criança”, diz Lívia, ressaltando que o manejo dos sagüis é complexo porque eles se estressam facilmente e que está longe de ser um trabalho mecânico.

Ter um grupo de tratadores especiais e dedicados é um diferencial do Mucky, mas isso não prescinde da necessidade urgente de mais apoio financeiro e resulta em muito sacrifício por parte dos colaboradores. Que o diga Vanessa da Silva Souza, tratadora no projeto há oito anos.

“É um trabalho que exige muita paciência e envolvimento, porque na verdade você está lutando por uma causa. Temos que observar individualmente cada um dos sagüis para identificar mudanças no comportamento ou algum sintoma físico de doença. Cada um tem a sua história e precisamos ficar atentos ao seu bem-estar mental, para também melhorar o físico”, diz Vanessa, que trocou alunos na escola primária pelos sagüis.

Vanessa ainda ressalta que como a equipe é pequena, é necessário se desdobrar. Mas o resultado final é prazeroso, porque “você trabalha em prol de alguma coisa”. “Aprendo muito com toda a equipe, que é muito envolvida. Pela minha experiência de professora, também monitoro alguns grupos de alunos em visitas de educação ambiental. O mais importante é mostrar que, na verdade, estes animais deveriam estar na natureza”, conclui a tratadora, que afirma que a grande lição é que as pessoas não devem comprar animais silvestres.

Educação ambiental: Apesar das dificuldades, o esforço para salvar o sagüi Mucky ganhou cada vez mais força ao longo dos 24 anos e hoje o projeto tem como missão o compromisso com a vida. Além do trabalho de tratamento e recuperação dos sagüis, o Mucky também é referência por seu trabalho de educação ambiental e de combate ao tráfico de animais silvestres, sem contar que as instalações do projeto seguem todo um conceito ambiental, com horta orgânica, compostagem de lixo e plantio de mudas nativas.

"Nossa perspectiva aqui no projeto é ambiental. Fazemos muitos trabalhos de educação ambiental demonstrando, através das histórias dos animais que tratamos, a importância do equilíbrio dos ecossistemas e da interação do homem com a natureza de uma forma harmônica. E esta é a filosofia de todos que trabalham conosco. Aliás, é isso que faz dar tudo certo", diz Lívia.

Como ajudar

Pessoas físicas e jurídicas (empresas) podem ajudar fazendo apadrinhamento de funcionários, apadrinhamento de sagüis, doações e comprando produtos da loja virtual. O projeto não é aberto à visitação para o público em geral. Visitas monitoradas podem ser agendadas com antecedência por escolas e pelas pessoas/empresas madrinhas dos funcionários e/ou dos animais. Também é possível fazer trabalho voluntário, estágio e pesquisas de campo. Os contatos do projeto para obtenção de maiores informações são:

Site: http://www.projetomucky.com.br/
E-mail: projetomucky@projetomucky.com.br
Telefone: (11) 4023-0143

Espécies do Projeto Mucky

Os sagüis são os menores primatas do mundo e são brasileiros, endêmicos dos biomas do país. Infelizmente são vítimas constantes de tráfico e tentativas de domesticação, todas, sem exceção, completamente inadequadas.

Além de sagüis, o Projeto Mucky também abriga um casal de micos-de-cheiro (Saimiri vanzolinii) e um casal de bugios-ruivos (Alouatta guariba), que já tem um filhote de pouco mais de um ano. Estas duas espécies e mais o sagüi-branco-da-amazônia são as únicas em que a reprodução é permitida (e até esperada), pois são espécies ameaçadas de extinção. Já com os sagüis, todos os machos são vasectomizados para evitar a reprodução e facilitar o controle em cativeiro. Atualmente o projeto abriga 187 animais em 84 recintos. Veja abaixo as espécies abrigadas pelo Mucky:

Calitriquídeos (sagüis)

Sagüi-do-tufo-preto
Sagüi-do-tufo-branco
Sagüi-leãozinho
Sagüi kuhlíi
Sagüi-da-cara-branca
Sagüi-da-serra
Sagüi-branco-da-amazônia

Cebídeo

Mico-de-cheiro

Atelidae

Bugio ruivo
*Publicado no edição n. 84 (março-abril 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung. Veja aqui.

Curtas Ambientais

Por Jaqueline B. Ramos*

Amazônia brasileira desprotegida

Apesar de ser o detentor da maior parte da Floresta Amazônica, recentemente foi demonstrado que somos um dos países que têm proporcionalmente menos territórios indígenas e áreas protegidas da floresta. São 39,6% da Amazônia brasileira sob proteção na forma de terras indígenas e unidades de conservação contra 79,7% no Equador, 71,5% na Venezuela e 56% na Colômbia. Só ganhamos do Peru, que protege apenas 34,9% da floresta.

Os dados foram revelados em março por um mapa produzido pela Rede Amazônica da Informação Socioambiental Georreferenciada – Raisg, o primeiro a fazer um levantamento detalhado das áreas protegidas em geral nos nove países amazônicos. O antropólogo Beto Silva, do ISA (Instituto Socioambiental), que coordenou a montagem do mapa, afirma que, em números absolutos, não há como fazer comparações, pois dos 3,4 milhões de km2 de áreas protegidas da Amazônia, 1,9 estão no Brasil. Mas ressalta que o trabalho revelou que alguns países da região mantêm a sua porção amazônica razoavelmente protegida.

Na Colômbia, por exemplo, toda a Amazônia (43,3% da área do país) é considerada reserva florestal. No Equador, as terras indígenas amazônicas reconhecidas pelo governo correspondem a 30% da área do país. “No Equador, o processo de reconhecimento oficial de territórios indígenas na Amazônia é menos burocrático que no Brasil”, diz Silva.

Recorde de desperdício de água

Outro número delicado colocou o Brasil na berlinda ambiental nos últimos meses. A consultoria ambiental H2C anunciou em março que o país detém o recorde de desperdício de água por habitante no mundo. E este recorde foi detectado no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, onde o gasto médio diário por pessoa é de mil litros. Em termos comparativos, o resultado é alarmante, pois em países africanos como a Namíbia, por exemplo, as pessoas têm menos de um litro de água por dia.

Juntamente com o recorde de desperdício, também foi divulgado que o consumo diário médio de água por pessoa nos grandes centros urbanos brasileiros oscila entre 250 a 400 litros do recurso natural. Este volume é mais que o dobro do considerado ideal pela Organização das Nações Unidas (ONU), fixado em 110 litros/dia. De acordo com a H2C, somente cinco países no mundo apresentam um nível de consumo de água per capita previsto pela ONU: Alemanha, Bélgica, República Tcheca, Hungria e Portugal.

A conclusão é que, apesar do Brasil ser privilegiado em termos de recursos hídricos, é necessário que os brasileiros adotem uma nova postura diante do consumo de água. “O que tínhamos de água disponível em 1950 é o mesmo que temos hoje, mas temos alguns bilhões a mais de seres humanos. Então, se não pensarmos em controlar a demanda, estamos completamente errados, porque o trabalho que as concessionárias de água e a população vêm fazendo é de apressar o término dos estoques. A água é a mesma, precisamos é controlar a forma como usá-la”, ressalta Paulo Costa, especialista em programas de racionalização do uso de água da H2C.

Escolas economizam 21 milhões de litros de água

Mas há também espaço para notícias boas, até mesmo na tão necessária economia de água. No dia Mundial da Água – 22 de março -, a Sabesp anunciou os bons resultados do Programa de Uso Racional da Água (Pura), implementado em 500 escolas municipais de São Paulo desde junho de 2008. A companhia constatou a economia de 26% no consumo de água entre janeiro de 2008 e janeiro de 2009, o que corresponde a aproximadamente 21 milhões de litros de água.

Com base em estudos e diagnósticos, a Sabesp verifica a quantidade necessária de água para a escola e oferece alternativas para a redução do consumo. Antes de o Pura ser implementado, o consumo das 421 escolas que já foram analisadas era estimado em 88 milhões de litros em janeiro de 2008. Em janeiro de 2009, o consumo caiu para 67 milhões de litros, o que corresponde ao abastecimento para cerca de 1.500 famílias. Outras 750 instituições de ensino municipais estão aderindo ao Pura no primeiro semestre desse ano.

Pecuária vilã, o retorno

Mais um estudo apresentado recentemente alerta para a problemática da emissão significativa de gases de efeito estufa por parte da pecuária. Pesquisa divulgada em março pelo Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED, na sigla em inglês) demonstra que a pecuária e o desmatamento emitem mais gases estufa do que as cidades.

Segundo o IIED, apesar da emissão de gases por carros e indústrias, as cidades lançam bem menos gases de efeito estufa na atmosfera do que a pecuária ou o desmatamento, por exemplo. O estudo analisou a emissão de CO2 em diversas cidades do mundo, entre elas São Paulo e Rio de Janeiro, comparando com as médias nacionais. Nas cidades brasileiras, as emissões por pessoa são menores do que a média do país, o que poderia ser explicado pelo fato das emissões brasileiras serem muito elevadas devido à atividade agropecuária na Amazônia.

Segundo David Dodman, autor do relatório, as cidades não são as principais culpadas pelo aquecimento global. “Os verdadeiros culpados da mudança climática não são as cidades propriamente ditas, mas os estilos de vida com consumo elevado das pessoas que vivem nas metrópoles”.

Animais planejam o futuro

Na última reunião anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência, realizada em fevereiro, cientistas afirmaram, entre outras coisas, que alguns animais são capazes de planejar o futuro e que isso não seria um privilégio dos seres humanos. Este foi um dos resultados dos estudos mais recentes sobre a capacidade mental dos animais apresentados por alguns pesquisadores.

Outras questões colocadas foram o fato de macacos fazerem conta de cabeça e de que pombos são capazes de entender quando uma imagem não faz parte de um conjunto. "Eu diria que nós humanos deveríamos manter nossos egos sob controle", disse Edward A. Wasserman, um pesquisador de psicologia experimental da Universidade de Iowa.

”Nos últimos 20 anos, houve uma grande revolução na compreensão dos animais”, acrescentou Nicola S. Clayton, professora de cognição comparativa da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. "Planejar para o futuro já foi visto como algo único dos humanos", disse ela. "Agora sabemos que não é verdade", disse Clayton, ressaltando que corvos já foram vistos guardando comida para o dia seguinte e, até mesmo, descobrindo meios de impedir que a reserva fosse roubada.

Em defesa das energias renováveis

Uma iniciativa do governo da Alemanha, Dinamarca e Espanha criou em fevereiro a Agência Internacional de Energias Renováveis (International Renewable Energy Agency – Irena). A agência é resultado de anos de debates e tem como um dos seus principais objetivos fazer um contraponto aos lobbies dos combustíveis fósseis junto aos governos mundiais.

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério de Relações Exteriores, o Brasil não aderiu à agência porque os biocombustíveis e a energia hidroelétrica não seriam prestigiados pela agência, que terá um foco maior nas energias eólica e solar. Porém o país seguirá como observador e poderá entrar na agência a qualquer momento. Um dos objetivos da nova entidade é acelerar o processo de transição entre os combustíveis fósseis e as novas formas de energias. Para isso, ajudará governos a traçarem novas políticas e legislações assim como realizará consultorias e acompanhamento de empreendimentos no setor.

Carro ecológico para todos

A montadora norte-americana Tesla Motors lançou em março um novo modelo de carro elétrico de cinco lugares de grande autonomia, que será o primeiro do mundo a ser produzido em escala industrial. O sedã “Model S” fará sua estréia nas linhas de produção em 2011 e chegará às lojas por um preço final de US$ 49.900. O protótipo, 100% não poluente, funciona com uma bateria de íons de lítio. Com uma carga completa, o carro é capaz de rodar até 360 quilômetros.

O preço final do carro ainda é salgado, comparado a outros sedãs da mesma categoria, mas a Tesla destaca que, com os incentivos ficais concedidos pelo governo a quem adquirir veículos não poluentes e o baixo custo da manutenção e do combustível, o "Model S" passa a ser bastante competitivo. A princípio, o novo carro será vendido apenas n Europa e América do Norte, seguindo depois para o mercado asiático.

Guerra X Riqueza Biológica

A maioria das guerras acontece em áreas de grande riqueza biológica. Esta foi uma das principais conclusões de um recente estudo publicado na revista científica Conservation Biology, que concluiu que mais de 80% dos principais conflitos armados do mundo entre 1950 e 2000 aconteceram nas regiões mais ricas em diversidade biológica e mais ameaçadas do planeta e, conseqüentemente, consideradas prioritárias para conservação.

Intitulado “Guerra nos Hotspots de Biodiversidade”, o estudo traz uma comparação das principais zonas de conflito com os 34 hotspots de biodiversidade identificados pela ONG Conservação Internacional (CI). “Essa conclusão surpreendente – de que os principais redutos de vida na Terra também são as regiões de maior conflito humano – nos diz que essas áreas são essenciais tanto para a conservação da biodiversidade quanto para o bem-estar humano”, afirma o presidente da Conservação Internacional e um dos autores do estudo, Russell A. Mittermeier.

Alguns exemplos da conexão entre natureza e conflito incluem a Guerra do Vietnã, quando o venenoso Agente Laranja destruiu a cobertura florestal e os mangues costeiros, e a extração de madeira que ajudou a financiar guerras na Libéria, Camboja e República Democrática do Congo. Nesses e em outros inúmeros casos, o efeito colateral da guerra teve impacto negativo na riqueza biológica e na capacidade das pessoas de viverem dela.

Bugios vítimas da ignorância

O recente surto de febre amarela que assustou, principalmente, a população no sul do Brasil fez várias vítimas da ignorância das pessoas. Bugios e outros primatas são, erroneamente, considerados suspeitos de serem transmissores da febre-amarela e de serem responsáveis pelo aumento da circulação da doença. O resultado são humanos usando pedras e outras armas para eliminar bugios e a matança desnecessária chegou a patamares inaceitáveis.

Júlio César Bicca-Marques, professor titular e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Primatologia, da Faculdade de Biocências da PUC/RS, divulgou recentemente uma nota advertindo contra a matança de bugios – que, aliás, estão ameaçados de extinção – no Rio Grande do Sul.

Numa parte da nota ele diz: “A febre amarela silvestre já provocou a morte de algumas pessoas e de muitos bugios em uma extensa área do Rio Grande do Sul desde o final de 2008. No entanto, ao contrário da maioria das pessoas, os bugios são extremamente sensíveis à doença, morrendo em poucos dias após contraí-la. (...) Além de tornar mais crítico o estado de conservação desses animais, a matança de bugios é extremamente prejudicial para o próprio homem. A morte de bugios por febre amarela alerta os órgãos de saúde locais sobre a circulação do vírus na região, os quais promovem campanhas de vacinação da população humana.”

Abate humanitário

STEPS. Este é o nome do Programa Nacional de Abate Humanitário lançado no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) no início de abril. Como o próprio nome sugere, STEPS (passos, em inglês) representam etapas que a WSPA - Sociedade Mundial de Proteção Animal (World Society for the Protection of Animals) pretende construir com o MAPA e associações das agroindústrias brasileiras na implementação de melhorias no manejo pré-abate e abate dos animais.

O programa teve início em 2008, com assinatura de Termo de Cooperação entre WSPA e MAPA, e as associações União Brasileira de Avicultura - UBA, Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango - ABEF e Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína - ABIPECS, para a elaboração de todo o material áudio-visual que será utilizado nos treinamentos.

A iniciativa visa à capacitação de dois mil fiscais agropecuários e profissionais que atuam em frigoríficos federais, estaduais e municipais para a promoção do bem-estar animal na rotina de trabalho das cadeias produtivas de bovinos, suínos e aves. O Diretor da WSPA Brasil, Antônio Augusto Silva, destacou no evento de lançamento do programa que "o bem-estar animal é uma tendência irreversível, uma demanda ética e uma oportunidade de negócios".

*Publicado no edição n. 84 (março-abril 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung. Veja aqui.